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Publicado em 08 de março de 2024 às 16h19min
Tag(s): 8 de março Ciência Dia Internacional da Mulher
Existem inúmeros desafios na jornada de um pesquisador, que vai desde a dedicação integral à sua pesquisa até a abdicação da vida social. Para homens, esse caminho, mesmo com obstáculos, se torna mais fácil por inúmeros fatores, e um deles está ligado ao gênero, visto que a responsabilidade em cuidar - seja da casa, dos filhos ou da família - recai na maioria das vezes sobre a mulher. Em uma pesquisa realizada por Luana Myrrha e Jordana Cristina de Jesus, professoras do Programa de Pós-Graduação em Demografia (PPGDem), os dados apontam que as mulheres, mesmo quando possuem algum trabalho remunerado, ainda dedicam um tempo aos cuidados, que é 60% maior que o tempo dedicado por homens ocupados.
As desigualdades de tempo dedicado ao lar e aos cuidados de pessoas é somente a ponta do iceberg que distancia mulheres do ambiente científico. É o que aponta Lara Gomes, pesquisadora em comportamento humano no Centro de Biociências da UFRN (CB).
Além disso, Lara explica que para estar em espaços científicos majoritariamente masculinos, como congressos e eventos, é um constante exercício de paciência. Segundo a pesquisadora, ela está sempre sendo subestimada sobre os seus conhecimentos nesses ambientes.
Situações como essa fazem com que garotas, principalmente as jovens, desenvolvam a chamada síndrome da impostora, caracterizada quando o indivíduo constroi uma percepção de si mesmo de incompetência ou insuficiência. Para Juciara Gomes, mestranda em Serviço Social na UFRN, a pós-graduação sempre pareceu um lugar inalcançável.
Majoritariamente ocupado por homens, as áreas de ciência e tecnologia apresentam números desiguais, desde a quantidade de mulheres presentes até o abismo no comparativo da média salarial. Essas questões foram o que motivaram Mariana Almeida, coordenadora do projeto Meninas no Espaço, a construir um ambiente tecnológico para mulheres em 2014. A professora realizou uma pesquisa a partir de um edital do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), cujo objetivo era investigar os fatores que influenciavam as meninas a não optarem por cursos de nível superior na área tecnológica.
A partir desse levantamento de dados, Mariana conseguiu identificar os cursos da UFRN entre 1994 até 2015 que tinham maior concentração de meninas. A equipe, formada por Mariana e alguns alunos de pós-graduação, descobriu a ausência de estudantes do sexo feminino em áreas tecnológicas e exatas. Desde então, a docente desenvolve o design desse projeto por uma estrutura de multiníveis. A estratégia multinível é formada por células de capacitação: tem um professor que coordena o curso e capacita um grupo de alunos, que, no caso, foram as tutoras.
A coordenadora ainda conta que transformar a vida de outras garotas por meio da educação se tornou uma missão de vida.
Apoiar iniciativas como essa e desenvolver políticas voltadas às estudantes é o objetivo de Silvana Maria Zucolotto Langassner, Pró-Reitora de Pesquisa da UFRN (Propesq). A Pró-Reitora explica que nos últimos anos, a UFRN tem se preocupado em apoiar mulheres na ciência, entendendo suas demandas e suas dificuldades em permanecer no ambiente científico.
A docente explica que agora trabalha para que as jovens cientistas sejam tão valorizadas quanto os pesquisadores homens, com categorias somente para elas em eventos premiados.
Honrar a luta histórica das mulheres pelo direito à educação também é uma das razões para que Juciara Gomes e tantas outras garotas continuem buscando um espaço no mundo científico e acadêmico. “Apesar das desigualdades que perpassam a experiência da vida acadêmica, para nós mulheres, filhas da classe trabalhadora, esse também é um espaço transformador. Transforma nossas mentes e o modo como a gente se percebe no mundo”, destaca Juciara.
Mais fortes que os obstáculos
Mesmo tendo incontáveis desafios em suas jornadas, as pesquisadoras continuam fazendo história nos espaços que ocupam. De acordo com os dados apresentados pela Propesq, a quantidade de mulheres bolsistas de Produtividade em Pesquisa (PQ) da UFRN aumentou 65,3% entre 2018 e 2023. Os estudos desenvolvidos pelas pesquisadoras estão distribuídos em 38 áreas, sendo psicologia, genética e educação as mais estudadas.
Fonte: Saiba Mais