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Publicado em 11 de novembro de 2024 às 11h50min
Tag(s): Pesquisa Científica Prêmio UFRN
“Não existe nenhum ponto de partida se não se sabe bem aonde ir”. Com essa frase de Sigmund Freud, o professor Raimundo Fernandes de Araújo Júnior inicia seu discurso ao receber o 6° Prêmio Pesquisador Destaque do CICT, evento realizado de 21 a 25 de outubro, no Auditório da Reitoria da UFRN. A citação resume os caminhos que o levaram à premiação, desde sua formação até as contribuições à pesquisa na UFRN e no cenário internacional.
Formado em Odontologia pela UFRN, Raimundo não planejava se tornar pesquisador. “Venho de uma família com uma mãe dona de casa, que estudou até a quinta série, e um pai comerciante. O que estava reservado para mim era seguir no comércio da família”, afirma. Suas afinidades com a área das Exatas e seu perfil observador surgiram ainda na escola. “O pesquisador, o cientista, tem que ser um observador do seu tempo”, reflete.
Todo o percurso acadêmico de Raimundo foi construído na UFRN, onde fez graduação, mestrado e doutorado, e da qual se considera “filho”, desde o início da graduação em Odontologia, há aproximadamente 30 anos, até hoje, onde atua como professor titular do Departamento de Morfologia no Centro de Biociências (CB). Lidera o Grupo de Pesquisa em Alterações Morfológicas, Nanomedicina e Oncologia Experimental e orienta nos programas de pós-graduação em Ciências da Saúde e Biologia Estrutural e Funcional. Atualmente, é bolsista de Produtividade nível 1C do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico).
Além das atividades de docência, Raimundo Fernandes coordena o Laboratório de Investigação do Câncer e Inflamação (LAICI), criado em 2014. O laboratório realiza pesquisas em Microscopia e Biologia Celular e Molecular, com foco no câncer. “O laboratório tem se mostrado muito funcional. Já produzimos muitas dissertações e teses, e muitos alunos de mestrado e doutorado terminaram lá, estudando os mecanismos de bloqueio da progressão tumoral e imunossupressão com nanopartículas, assim como, estudos de genes e proteínas altamente expressos em tumores que influenciam a sobrevida de pacientes da Liga Contra o Câncer”, afirma. O laboratório também realiza pesquisas sobre nanovacinas em colaboração com universidades da Holanda e Finlândia.
Trinta anos após ingressar na UFRN como graduando em Odontologia, Raimundo Fernandes agora tem formado novas gerações de profissionais. Para ele, o compromisso não é apenas com a formação acadêmica, mas também com a ética e empatia dos futuros pesquisadores. “É preciso ensinar de forma ética e empática. Estimular cooperação e não competição. Trabalhar a coletividade”, diz.
Ajudar outros por meio da ciência é uma missão central para o professor. “O que me motiva a acordar todos os dias é pensar que posso contribuir com a ciência mundial, nem que seja como um grãozinho de areia, e assim, no futuro, amenizar 0,01% do sofrimento de alguém. Se eu fizer isso, minha vinda à Terra já valeu a pena”, afirma.
Os desafios e conquistas da internacionalização
Após tornar-se professor, Raimundo percebeu a necessidade de aprofundar suas pesquisas em biologia molecular e celular. Realizou seu primeiro pós-doutorado na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). Mais tarde, decidiu ir além e buscou novos desafios na Universidade de Leiden, na Holanda, onde completou seu segundo pós-doutorado.
“Na Europa, essa área de pesquisa é muito atrelada à clínica. Em Leiden, eu dividia a sala com membros do hospital”, conta. Ele se preparou intensamente para essa experiência, vendo o tempo dedicado como um investimento: “Para mim, não era perder tempo, era ganhar em experiências profissionais e pessoais”.
A internacionalização, porém, veio acompanhada de desafios. Durante seu período no exterior, Raimundo enfrentou episódios de xenofobia. “Precisamos demonstrar cinco vezes mais potencial. Eles nos veem como cidadãos do terceiro mundo e passam a respeitar após provarmos consistência em nosso trabalho. O sonho de fazer algo fora achando que seria perfeito foi só no primeiro ano; depois de quase sete anos de parceria na figura de professor visitante, percebi que realizar transferência de conhecimento e tecnologia adquirida lá para meu grupo nacional era o principal objetivo do meu trabalho com eles”, ressalta.
Raimundo Fernandes afirma ser desafiador “dar a cara a tapa fora do país. Foi e continua sendo, principalmente quando comparamos a infraestrutura que eles têm com as que dispomos”. Para ele, é necessário mais investimentos institucionais para possibilitar que a pesquisa brasileira seja mais atrativa e competitiva. “Mesmo depois de um livro e vários artigos publicados com o grupo holandês, a sensação de ter feito algo além do que eu imaginava é recompensadora”, explica.
O docente não tinha como único objetivo o pós-doutorado, mas também uma parceria internacional entre a Universidade de Leiden e a UFRN concretizada, com a co-cutela de um de seus alunos de doutorado. Conseguiu formalizar essa cooperação, que durou por volta de sete anos e levou muitos de seus alunos ao exterior. Atualmente, ele opera também como professor visitante das universidades holandesa e finlandesa (Tampere).
O prêmio
O 6° Prêmio Pesquisador Destaque, da Pró-Reitoria de Pesquisa (Propesq), tinha o objetivo de premiar os pesquisadores, docentes efetivos da universidade com, no mínimo, dez anos de atividade dentro da Instituição e que tivessem apresentado relevantes contribuições para o desenvolvimento da ciência nas seguintes áreas de conhecimento: Ciências da Vida; Ciências Exatas, da Terra e Engenharias; e Ciências Humanas e Sociais, Letras e Artes. A entrega dos prêmios ocorreu no 35° Congresso de Iniciação Científica e Tecnológica (CICT), no dia 25 de outubro de 2024, no Auditório da Reitoria da UFRN. Raimundo Fernandes de Araújo Júnior foi o vencedor na área de Ciências da Vida.
Fonte: UFRN