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Publicado em 18 de novembro de 2024 às 11h41min
O píer Mauá, no centro histórico do Rio de Janeiro é palco até o próximo sábado, 16 de novembro, do G20 Social, um acontecimento considerado histórico pela CUT, movimentos sociais e entidades da sociedade civil, por ser a primeira vez em que faz parte do calendário oficial da Cúpula do G20, encontro dos líderes das maiores economias do mundo, que será realizado nos dias 19 e 20 deste mês.
Com milhares de pessoas vindas de várias partes do Brasil e do mundo, o primeiro dia foi marcado por intensos debates e várias atividades organizadas pelos movimentos, acerca de pautas essenciais como o combate às desigualdades, a transição justa e a reforma da governança global, eixos principais do evento.
A CUT se destacou neste cenário pelo painel “Desafios diante das transformações do mundo do trabalho”, que discutiu, entre outros pontos, as formas como as novas tecnologias vêm impactando as relações trabalhistas e como proteger trabalhadores nessa realidade, reunindo além de sindicalistas, militantes, acadêmicos, entre outros.
O conceito fundamental levado à discussão é sobre o valor real do trabalho. O secretário de Relações Internacionais da CUT, Antônio Lisboa, explicou que só é possível combater as desigualdades, assim como construir uma transição energética justa, assim como uma governança global não fragilizada se o valor do trabalho for o centro dos debates.
“Quando falo do valor do trabalho é sobre o trabalho digno, decente, em que a pessoa, partir do resultado desse constrói o mundo que a gente quer. Hoje o trabalho está sendo secundarizado”, disse o dirigentes explicando que se trata de ‘dar valor ao trabalho como atividade humana’, e não instrumento do crescimento capitalista, o que, ele reforça, é uma estratégia do neoliberalismo em conjunto com a extrema direita em nível mundial.
Como exemplo, ele citou a recente fala do Deputado Federal, o pastor Marco Feliciano (PL) que, em sessão no Congresso Nacional, se opôs à chamada escala 6x1, discussão que vem ganhando força nas redes sociais nas últimas semanas e que propõe a redução da jornada de trabalho, uma bandeira histórica da CUT.
“Quando parlamentares dizem que o trabalhador tem que trabalhar até a exaustão, trata-se dessa estratégia da estrutura financeira do capital com a estrutura de tomada do poder pela extrema direita e sequestro do coração e da mente das pessoas. Temos que dizer não a isso. Temos de dizer que queremos trabalho decente”, pontuou Lisboa.
“Jovens na periferia são vítimas desse modelo de organização do capital, do processo de captura de corações e mentes, para convencer essas pessoas que trabalhar e produzir não é importante, e que importante é ganhar”, disse em referência ao capitalismo alienar trabalhadores, fazendo-os acreditar, como citou Marco Feliciano de que quanto mais se trabalha, mais se ganha.
Em sua fala , Lisboa ainda se referiu ao fenômeno social de individualismo que relega a coletividade a um segundo plano. Como resultado, ele disse, o sindicato, caminho mais assertivo e eficaz para a luta por direitos, acaba sendo, injustamente, desacreditado.
Vale lembrar que a reforma Trabalhista de 2017, após o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff, também foi uma investida da extrema direita e do capitalismo para enfraquecer a organização dos trabalhadores.
A Diretora-Geral Adjunta da Organização Internacional do Trabalho (OIT), Celeste Drake, convidada especial para o painel, destacou as transformações no mundo do trabalho, provocadas pelas novas tecnologias. “É importante falar sobre essas transformações. Muitos celebram essas inovações mas há riscos e desafios para garantir que essas mudanças tragam dignidade para os trabalhadores”, afirmou.
Ela citou elementos importantes para os debates sobre os impactos da digitalização, citando crescimento de desigualdades e questionando se as pessoas estão sendo remuneradas por atividades que envolvem novas tecnologias
A automação, a digitalização, a inteligência artificial impactam profundamente no mercado de trabalho. Trazem oportunidades mas também trazem riscos. Podem criar ainda mais desigualdades
Ela cita o que vem acontecendo no mercado de trabalho que, por um lado oferece oportunidades para muitos trabalharem por plataformas, em geral, em empregos precarizados, e ao mesmo tempo, as tecnologias eliminam outros postos de trabalho, em outros setores.
“Precisamos criar trabalhos decentes. Nem todos se beneficiam da mesma maneira. O avanço pode aumentar o abismo social”, ela diz.
Celeste Drake ainda relacionou as desigualdades com as mudanças climáticas, citando que os trabalhadores são os mais impactados pelas crises e afirmou que é possível criar novos postos de trabalho, novas ocupações investindo em energias limpas e renováveis. “É possível, mas não acontece automaticamente. Tem que haver decisões como o Brasil está tomando com o G20 Social”, disse, afirmando ser essencial a participação da sociedade nas discussões sobre o tema
Uma transição não será justa se não trabalharmos juntos. Precisamos garantir a voz dos trabalhadores nos vários países. Eles [os líderes do G20] vão falar desse passo para o futuro. Vamos garantir que trabalhadores sejam ouvidos para que a transição seja melhor
G20
“Um momento histórico pra classe”, reforçou o presidente nacional da CUT, Sergio Nobre, na abertura da mesa. Ele, que também participou de um painel que reuniu o Dieese e as centrais sindicais para a apresentação de um documento conjunto com demandas da classetr abalhadora, a ser apresentado ao presidente Lula, destacou que nas reuniões anteriores do G20, os movimentos populares mas sempre ficaram à margem do evento, realizando atividade paralelas para ter visibilidade. “É a primeira vez que o G20 ocorre no Brasil e que somos [os movimentos populares] convidados como parte oficial”, disse o dirigente.
Ele ainda afirmou que o G20 Social é uma inovação porque a CUT, que sempre foi central de luta, combativa e apresentou propostas aos problemas da classe trabalhadora brasileira, mas agora junto com outras centrais e movimentos tem como desafio olhar para o mundo. “É inovador a CUT propor saídas para a classe trabalhadora no mundo”, disse Sérgio Nobre.
Ele ressaltou ainda a iniciativa do G20 Social agradecendo ao presidente Lula. “A gente deve esse G20 ao presidente Lula pelo compromisso que ele tem com a classe trabalhadora. Ele é cutista e isso é motivo do nosso orgulho”, pontuou o presidente nacional da CUT
Mulheres
Mais cedo, ainda na parte da manhã, o Fórum Nacional das Mulheres Trabalhadoras das Centrais Sindicais organizou o painel “Superação das Desigualdades entre homens e mulheres no Mercado de Trabalho: a relevância da Lei de Igualdade Salarial”.
A CUT foi representada por sua secretária da Mulher Trabalhadora, Amanda Corsino. Ela afirmou que o destaque do debate ficou para a proposta de um documento que deverá ser apresentado aos membros do G20, com pontos como as razões da desigualdades entre gêneros, o porquê de trabalhos menos valorizados para as mulheres e com propostas de políticas de enfrentamento não somente à desigualdade salarial, as também à violência contra a mulher.
“As propostas são de enfrentamento como políticas públicas e inclusão de cláusulas em negociações coletivas de trabalho, além de políticas nacionais de cuidados, questão que impede a mulher de ingressar e permanecer no mercado de trabalho”, disse a dirigente.
Fonte: CUT