Recursos privados favorecem universidade

Publicado em 30 de julho de 2010 às 10h27min

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São já vários os casos em que as empresas estão investindo recursos para que setores das universidades desenvolvam pesquisa de interesse recíproco
O artigo "Universidade, mecenato e mercado", publicado nesta seção em 2 de julho pelos professores Ricardo Antunes e Marcus O. G. Correia aborda o tema da doação às universidades de forma superficial e deformada, que não permite sustentar suas posições contrárias a essas iniciativas.
Nem sequer chegam a fazer uma distinção entre duas formas das universidades captarem recursos extras àqueles advindos do repasse de verbas do governo: as doações de pessoas privadas e as parcerias com empresas.
A primeira, comum em muitos países, mas mais expressiva nos Estados Unidos ("endowment"), é uma doação de cidadão privado à universidade, que a utiliza segundo suas metas. Geralmente, são ex-alunos que não impõem nenhum direcionamento aos recursos doados ou milionários que doam recursos vultosos para programas definidos. Este último caso ocorre tipicamente com doadores que tiveram pessoas de seu entorno com uma doença particular que reconhecidamente requer pesquisa para seu entendimento e cura.
Para se ter uma ideia do que representam as doações, a Universidade Stanford foi a que mais recursos captou em 2009 nos Estados Unidos, permitindo investir US$ 1,1 bilhão em salários, bolsas para estudantes e programas. Isso representa 30% do orçamento de Stanford, que neste ano somou US$ 3,7 bilhões.
Não há nenhuma suspeita de que essas doações por pessoas privadas, que nos Estados Unidos somaram US$ 27,9 bilhões de dólares em 2009, tenham se constituído em ameaça à liberdade de cátedra ou em um estorvo para a pesquisa básica no setor acadêmico, como temem os articulistas.
Muito ao contrário, ela abriu possibilidades para lançamentos de programas, contratações e fortalecimento no ensino e pesquisa.
A parceria com empresas tem enfoque distinto e já ocorre em pequena escala em nossas universidades. Ela geralmente se dá a partir do interesse recíproco de um pesquisador e de uma empresa; a meta principal é criar tecnologia de ponta.
No Brasil, onde as empresas ainda estão desaparelhadas em infraestrutura e recursos humanos para alcançarem sozinhas essa meta, a universidade tem um papel catalisador importante.
São já vários os casos em que as empresas estão investindo recursos para que setores específicos das universidades e institutos desenvolvam pesquisa de interesse recíproco e formem recursos humanos para seus próprios quadros. Como negar que este é outro papel social importante da universidade?
O único perigo é o de que essa parceria seja caracterizada como uma mera prestação de serviços ao invés de criadora de tecnologia de ponta. Órgãos das universidades estão qualificados para avaliar esse aspecto; eu mesmo já participei de um deles, em que isso era feito rotineiramente.
Tudo o que foi dito acima pode ser desqualificado por um posicionamento rígido, para não dizer ideológico, de que a universidade não deve se imiscuir com interesses de setores privados, individuais ou empresariais. E que os recursos adicionais necessários devem advir do setor público.
Nesse ponto, o questionamento não é mais ideológico, mas puramente corporativista, pois principalmente do setor acadêmico espera-se uma visão aberta para a realidade social e econômica da nação.
Isso significa, para ficar apenas no setor educacional, perguntarmos a nós mesmos por que o desejo de abocanhar uma porção ainda maior dos recursos públicos que são para atendimento do ensino básico, médio e superior?

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