Ex-membro da Oban admite assassinato de militantes da luta armada

Publicado em 08 de dezembro de 2010 às 10h44min

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Pela primeira vez, um agente da ditadura militar (1964-1985) admite ter participado da operação que levou à morte de Antônio dos Três Reis de Oliveira e Alceri Maria Gomes da Silva, que atuaram na luta armada contra o regime. O relato foi publicado na Folha de S.Paulo desta quarta-feira (8).
Tenente-coronel reformado, Maurício Lopes Lima, de 75 anos , foi chefe de buscas da Oban (Operação Bandeirante). Em novembro, o oficial foi acusado pelo Ministério Público Federal de participar de atos de violência contra a presidente eleita, Dilma Rousseff, e outros 19 presos políticos. Foi denunciado por vários, mas nega tudo.
Antônio, estudante de economia, tinha 21 anos e militava na ALN (Ação Libertadora Nacional). O Exército nunca admitiu sua morte. Já Alceri, de 26, era operária e pertencia aos quadros da VPR (Vanguarda Popular Revolucionária). Os dois foram metralhados em 17 de maio de 1970 num aparelho (esconderijo) na Rua Caraguataí, no Tatuapé, zona leste de São Paulo.
No depoimento à Folha, o militar confirmou ter comandado a operação e disse, sem apresentar provas, que Antônio teria atirado contra ele. Conforme sua versão — que segue a linha evasiva do regime militar —, as duas mortes como "inevitáveis". "Todas as equipes já tinham saído quando lá chegou não sei quem. E disse: ‘Olha, o pessoal tá no aparelho, no Tatuapé... E no meio do corredor tem um alçapão’. Fui procurar o alçapão, encontrei”, relata ele.
Em seguida, Maurício descreve uma cena pouco provável. “Peguei um canivete, enfiei, tirei e saiu um cara que me deu seis tiros. Saltei para trás [fazendo barulho de tiros], e ele atirava. Eu acho que esse era o Antonio Três Rios [sic]", disse, sem explicar como escapou aos seis tiros. Segundo Lima, Alceri chegou a ser retirada do local com vida. "Embaixo tinha uma menina, que também foi atingida e saiu com vida." "O Antônio morreu na ação. A mulher saiu viva e morreu a caminho do hospital. Baleada. Era a Alcira [sic]."
Apesar de admitir a presença na ação, ele disse não ter atirado. Responsabilizou agentes chefiados pelo capitão Francisco Antônio Coutinho e Silva, já falecido. "Não era minha equipe", disse. O militar não esclareceu por que estaria acompanhado de agentes subordinados a um colega. Ao justificar a morte de Antônio, Lima culpou a vítima: "Contei duas violências tremendas. Muitas vezes, inevitáveis. Como é que eu posso abrir um alçapão e me sai um cara e me dá um tiro na cara? Um não, seis."
O primeiro documento oficial sobre a morte do estudante, um laudo do IML localizado em 1991, diz que ele foi abatido com um tiro no olho direito. O laudo de Alceri contabiliza quatro tiros, sendo dois pelas costas. O livro Direito à Memória e à Verdade, publicado pela Presidência da República em 2007, afirma que, segundo ex-presos políticos, eles foram baleados "por agentes da Oban chefiados pelo capitão Maurício Lopes Lima".
Dilma
O militar recebe aposentadoria de R$ 11 mil brutos e vive a duas quadras da praia, no Guarujá, litoral paulista. A ação da Procuradoria cita depoimento em que Dilma o apontou como "um dos torturadores da Oban". Em 2009, a presidente disse que ele não a agrediu, mas "entrava na sala e via tortura".
"Não assisti à tortura dela, não sei quem torturou. Eu chegava com o terrorista e entregava para o interrogador. Depois acontecia o que acontecia. Eu não sei, não queria saber", disse ele. O oficial, frio diante de tamanha brutalidade, afirmou não ter arrependimentos. "Não tenho nenhum remorso", disse. "Eu estava numa guerra."
Portal Vermelho
 

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