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Publicado em 01 de março de 2011 às 09h58min
Tag(s): Portal Vermelho
Durante a visita que fará nesta terça-feira (1º) a Irecê, no noroeste da Bahia, a presidente Dilma Rousseff deve receber da comunidade um pedido para a criação do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do Sertão. Os moradores querem investimentos pontuais, a curto prazo e com efeitos imediatos na vida das famílias.
A referência ao PAC, lançado no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o objetivo de realizar grandes obras de infraestrutura, é simbólica. Ao contrário do programa original, com visão macro dos principais gargalos do Brasil, o PAC do Sertão defende ações “no varejo”.
Os moradores rurais e urbanos da região de Irecê esperam do governo obras e ações pequenas, baratas e variadas que possam modificar profundamente o cotidiano das comunidades carentes até de água potável. “Não precisamos aqui de coisas muito grandes. Precisamos de ações a serem planejadas hoje, executadas em seis meses e inauguradas em um ano”, avalia José Nogueira, técnico de campo do Centro de Assessoria do Assuruá (CAA), uma organização não governamental dedicada à tarefa de promover a convivência com o Semiárido.
Obras e investimentos
O PAC do Sertão, na opinião de muitos moradores, deveria conter obras e ações destinadas a fomentar a economia local. Nesse contexto estão as ações para acesso à água, os incentivos ao cooperativismo, o financiamento de dívidas agrícolas, linha de crédito agrícola, investimentos em formação técnica, creches e escolas.
A demanda por mecanismos de captação de água das chuvas irregulares é a principal. “Sem infraestrutura, as águas vêm e vão embora sem nada adiantar”, comenta o agricultor José Nilton Afro dos Santos, membro da comunidade quilombola de Lagoa do Galdêncio, a cerca de 10 quilômetros do centro de Irecê. José Nilton é beneficiário do Bolsa Família e conseguiu a construção de uma cisterna que capta a enxurrada e direciona a água para a irrigação de canteiros e para o consumo das cabras, que cria para corte.
O agricultor produz hortaliças orgânicas que vende aos domingos em uma feira no município vizinho de Irecê. Outra renda vem da mamona, que ele vende para um atravessador. Depois de beneficiada, a semente é levada para a fábrica de biodiesel de Iraquara, outro município da região. “Se a gente tivesse uma esmagadora aqui, seria ótimo”, almeja José Nilton.
Semiárido baiano
Irecê é a principal cidade de uma área de mais de 27 mil quilômetros quadrados de semiárido baiano. Na década de 90, a cidade chegou a ficar conhecida como a capital do feijão devido a uma política governamental de incentivo ao plantio da leguminosa. A irregularidade das chuvas, as práticas agrícolas não sustentáveis e o consequente endividamento dos produtores fizeram essa cultura declinar.
O resultado é que o feijão que se come hoje em Irecê é procedente de outras áreas agrícolas. A última safra importante de feijão foi em 2000, quando a produção chegou a 5 milhões de toneladas. Atualmente, há cultura de mamona, pinha para exportação, milho, cenoura, beterraba e banana irrigada. O que não se exporta, serve para abastecer mercados de Salvador, Feira de Santana, Luiz Eduardo Magalhães e Barreiras, municípios mais desenvolvidos da Bahia.
A área que envolve o município é tratada pelo governo federal como um dos Territórios da Cidadania e congrega 20 municípios menores: Central, Gentio do Ouro, Itaguaçu da Bahia, João Dourado, Xique-Xique, América Dourada, Barra do Mendes, Barro Alto, Cafarnaum, Canarana, Ibipeba, Ibititá, Ipupiara, Irecê, Jussara, Lapão, Mulungu do Morro, Presidente Dutra, São Gabriel e Uibaí.
A população total do território é de mais de 400 mil habitantes. Desses, mais de 160.241 vivem na área rural, o que corresponde a 40,03% do total. O Índice de Desenvolvimento Humano da região é baixo: 0,61. O grande número de beneficiados pelo programa Bolsa Família é alto, por isso a decisão do governo de anunciar em Irecê o reajuste para o programa de distribuição de renda.
Só no município de Irecê, mais de 7 mil famílias são atendidas pelo programa, que em fevereiro atingiu a meta de beneficiar em todo o país 12,9 milhões de famílias. A Bahia é o estado com maior número de famílias beneficiadas pelo programa. Dados de fevereiro indicam que 1,7 milhão de famílias baianas recebem o Bolsa Família.
A discussão sobre o PAC do Sertão também envolve a população urbana e foi objeto de debate dos comerciantes na semana passada, logo após receberem a notícia da visita da presidenta. “A região de Irecê pode ser comparada à Mesopotâmia, só que em vez do Tigre e do Eufrates, estamos entre rios que correm somente em uma parte do ano, o Rio Verde e o Jacaré. Por isso são necessárias obras que tornem esses rios perenes” avalia o deputado Joacy Dourado (PT), empossado recentemente, que já foi prefeito de Irecê.
“A barragem de Mirorós está secando e precisamos de água para beber”, afirma Dourado. Ele aponta a construção de barragens sucessivas e subterrâneas como forma de resolver o problema. A preocupação do parlamentar é com a baixa no nível da represa que abastece 486 mil pessoas em 14 municípios da região.
O documento com as reivindicações dos moradores deve ser entregue hoje a Dilma. Entre as reivindicações também estão melhorias no aeroporto de Irecê para que opere com voos comerciais, reforma de estradas, crédito agrícola, além da implantação de um centro regional de pesquisas.