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Publicado em 14 de março de 2011 às 09h52min
Tag(s): Pesquisa Científica
Editorial da revista Science, escrito por Raymond L. Orbach* e traduzido por José Monserrat Filho, trata dos cortes feitos no orçamento para pesquisa científica nos Estados Unidos.
Foi com um misto de espanto e consternação que presenciei a aprovação pela Câmara de Representantes (Deputados) dos Estados Unidos (EUA) do projeto de lei HR 1 destinado a financiar o Governo federal no que resta do ano fiscal de 2011. Deixados intactos, os cortes maciços na pesquisa científica feitos no projeto aprovado em 19 de Fevereiro irão, de fato, pôr fim à tradicional posição dos EUA de líder da comunidade científica mundial e colocar o país em clara desvantagem para competir com outras nações no mercado global. Países como China e Índia estão aumentando os recursos para a pesquisa científica porque entendem o seu papel no fomento aos avanços tecnológicos e inovações. Se os EUA desejam competir na economia global, devem também continuar investindo em programas de pesquisa.
Como subsecretário de Ciência do Departamento de Energia no Governo George W. Bush, posso atestar pessoalmente que o financiamento da pesquisa científica não é questão partidária, ou, pelo menos, não deveria ser. Os cortes propostos no projeto HR 1 desfazem o compromisso bipartidário de dobrar em dez anos o orçamento da pesquisa científica da Fundação Nacional de Pesquisa [National Science Foundation], da Secretaria de Ciência do Departamento de Estado [Ministério das Relações Exteriores], e do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia [National Institute for Science and Technology]. Este objetivo nacional, apoiado pelos presidentes Bush e Obama, foi sancionado bem recentemente, em dezembro último, pela Lei A América Competitiva.
Os cortes previstos no projeto aprovado terão efeito devastador sobre uma série de pesquisas científicas fundamentais. Por exemplo, eliminam-se 900 milhões dólares do orçamento da Secretaria de Ciência, o braço da pesquisa básica do Departamento de Estado - redução de cerca de 20%. O projeto afeta em especial o Laboratório de Pesquisas Biológicas e Ambientais [Office of Biology and Environmental Research], diminuindo seu orçamento em 50%; tais reduções, ao todo, simplesmente eliminam o financiamento de três centros de pesquisa biológica e a esperança de se desenvolverem combustíveis derivados de usinas de celulose. O enorme sucesso dos Centros de Pesquisa Energia de Fronteira (Energy Frontier Research Centers), que apóiam projetos de pesquisa em 28 universidades e 16 laboratórios nacionais, será interrompido no meio do caminho.
Os centros das universidades sustentam os 1300 estudantes que, trabalhando na conversão da luz solar e do calor em eletricidade, melhoraram a eficiência da fotossíntese das plantas para a produção de combustíveis e aumentaram a eficiência da combustão para ampliar a quilometragem dos carros. O trabalho agora em risco nos laboratórios nacionais inclui projetos voltados para o aperfeiçoamento da luz gerada em dispositivos de matéria condensada e a conversão do carvão em produtos químicos e combustíveis. Esta pesquisa é de vital relevância se os EUA quiserem ser líderes no esforço de mudar como os seres humanos obtém e utilizam a energia em nível global, de modo a preservar a viabilidade social e econômica.
Para piorar as coisas, o projeto também desestabiliza grandes instalações científicas operadas pela Secretaria de Ciência do Departamento de Estado. Tais pesquisas incluem o trabalho do país com poderosas fontes de luz (que outros países estão copiando em massa), tão essencialmente importantes para as comunidades científicas de Biologia, Medicina e de materiais dos EUA. Incluem, também, os aceleradores restantes no país, responsáveis pelos avanços das comunidades científicas das áreas nuclear e de altas energias; sua fonte de espalação (fragmentação) de nêutrons e seus centros de nanotecnologia, extremamente valiosos tanto para as universidades quanto para as comunidades industriais; e a busca de energia ilimitada e ambientalmente benigna através do investimento no Reator Termonuclear Experimental Internacional.
O déficit orçamentário é grave. Para escapar de suas garras, são necessários crescimento econômico e reduções orçamentárias. Bem mais da metade do crescimento econômico dos EUA no século passado pode ser atribuída a investimentos em ciência e tecnologia. Para competir na economia global, os EUA precisam permanecer líderes em ciência e tecnologia. Para que isso ocorra, o Senado deve restaurar as dotações para a ciência no orçamento do ano fiscal de 2011. Se não o fizer, relegará os EUA à posição de segunda classe na comunidade científica mundial e ameaçará o crescimento econômico e a prosperidade das futuras gerações de norte-americanos.
* Raymond L. Orbach é diretor de Energia do Instituto da Universidade do Texas, Austin. Foi Segundo Secretário da Ciência no Departamento de Energia na gestão do presidente George W. Bush. É membro do Conselho de Administração da Associação Americana para o Avanço da Ciência (AAAS, na sigla em inglês).
Fonte: Jornal da Ciência