CNPq vai criar comissão contra fraude

Publicado em 04 de abril de 2011 às 12h07min

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Após a acusação de fraude em 11 estudos do químico da Unicamp Claudio Airoldi, divulgada pela Folha, o CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) anunciou um novo comitê que investigará casos como esses. Até agora, o CNPq, principal órgão federal de apoio à pesquisa, não avaliava essas denúncias. "Resolvemos indicar um comitê temporário para auxiliar na criação de uma comissão de integridade científica, para quando casos assim vierem à tona", disse o presidente do órgão, Glaucius Oliva.
No Brasil, as investigações estão hoje a cargo das instituições onde ocorrem supostos casos de má conduta.
O CNPq também decidiu que o professor será afastado de suas funções no comitê de assessoramento de química do órgão federal até que a investigação seja concluída. As acusações envolvem manipulações de dados de ressonância magnética, em estudos sobre as características de certas moléculas. A editora multinacional Elsevier, em cujas revistas saíram as 11 publicações, diz que três cientistas independentes concluíram que os dados teriam sido manipulados.
Defesa - Ex-colega de graduação de Airoldi, Rogério Meneghini, químico e coordenador científico do Projeto SciELO, defende o acusado. "Ele [o autor] tem cerca de 400 publicações. As investigações estão no início. Ele pode estar sendo vítima de um grupo concorrente. O que é fraude e o que é interpretação errada dos dados por descuido? Essas coisas estão muito próximas", afirmou. Meneghini também criticou a maneira como o caso foi tratado na imprensa.
O outro principal acusado no caso, Denis Guerra, hoje na Universidade Federal de Mato Grosso, voltou a defender Airoldi e reafirmou a sua própria inocência. "Queria ressaltar que não houve fraude. Um pesquisador da Unicamp ou da USP não tem a menor necessidade de fraudar dados. Ainda mais um pesquisador como o Airoldi, com 40 anos de carreira", declarou ele.
O químico da Unicamp se recusou a falar com a Folha. Declarou que vai apresentar seus argumentos durante a sindicância aberta pela universidade. A previsão é que a Unicamp conclua a investigação dentro de um mês.
Cautela - O presidente da SBQ (Sociedade Brasileira de Química) declarou ontem que "não é hora de crucificar nem de defender" os químicos brasileiros acusados de má conduta científica. Claudio Airoldi, da Unicamp, líder da equipe que teria fraudado dados de ressonância magnética, é um dos membros mais antigos da SBQ.
"Já discutimos o tema. Vamos admitir que o fato seja verídico. Mesmo que seja, não temos função de polícia nem de justiça", disse à Folha Cesar Zucco, da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina).
Para Zucco, há instâncias apropriadas para investigar a situação, em especial a Unicamp, "empregadora dele", e o CNPq. "Não vou dizer que seria precipitado da nossa parte emitir uma condenação, mas creio que não cabe fazê-lo agora." Do mesmo modo, a ABC (Academia Brasileira de Ciências), da qual Airoldi é membro, disse que vai esperar o fim das investigações para se pronunciar.

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