Universidade Federal do RJ acaba com vestibular; seleção será feita pelo Enem

Publicado em 04 de julho de 2011 às 13h53min

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A UFRJ não é a primeira a adotar o exame como critério único para preenchimento das vagas - 20 instituições já fazem o mesmo -, mas é a mais importante delas.
A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) decidiu acabar com a prova de vestibular para ingresso na instituição. Em reunião que durou cerca de três horas, os integrantes do Conselho Universitário (Consuni) aprovaram a adesão total ao Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). No ano passado, 40% dos alunos ingressaram na UFRJ por meio do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) - que usa a nota do Enem para seleção de universidades federais.
"Pela primeira vez, veremos estudantes entrando por um sistema único, federal, na universidade. Criamos um ambiente de cooperação", afirmou o reitor Aloisio Teixeira, ressaltando que a intenção é unificar o acesso ao ensino superior federal. Foi decidido que 30% das vagas serão preenchidas por egressos do ensino público, desde que a renda per capita familiar seja de R$ 545 (um salário mínimo). Em 2010, as cotas preencheram 20% das vagas oferecidas. Em 2010, 59 universidades e institutos federais utilizaram a nota do Enem em seus processos seletivos.
A UFRJ não é a primeira a adotar o exame como critério único para preenchimento das vagas - 20 instituições já fazem o mesmo -, mas é a mais importante delas. A adesão das federais levou 4,6 milhões de candidatos a se inscreverem para a prova, número 30 vezes maior que os 157 mil que participaram do primeiro Enem, em1998.
Embora menos turbulenta que as discussões que definiram a adesão parcial ao Enem e o início das cotas na instituição, em 2010, a reunião não foi marcada por consenso.
A proposta de abolir o exame próprio - um dos sistemas mais elogiados por especialistas, por ser inteiramente discursivo - não foi bem recebida por todos. Um dos argumentos mais lembrados por conselheiros contrários foram as falhas nos dois últimos anos, como vazamento das questões em 2009, e erros de impressão em 2010.
"Acho arriscado. É uma decisão legítima, aprovada pela maioria, mas foi prematura e acelerada", defendeu Nelson Ricardo de Freitas Braga, representante dos professores associados do Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza.
O diretor do Instituto de Física, José D'Albuquerque e Castro, acha a adesão total ao Enem "um caminho interessante". "Simpatizo com a ideia, mas é uma responsabilidade grande para os organizadores da prova. Se não der certo, sempre há possibilidade de uma volta ao sistema anterior."
Cotas - A ampliação das cotas foi comemorada. "Ampliamos em 50% o número de vagas para a escola pública, deixando menos margem para que as pessoas que tenham melhores condições socioeconômicas ocupem a maioria das vagas", disse o professor de Economia Marcelo Paixão.
Ele lamentou a não aprovação da cota pelo critério étnico. "A votação ficou em 17 a 12. A UFRJ continua sendo fundamentalmente branca, mas a decisão apertada nos deixa otimistas."
Diretores de cursinhos prévestibulares já traçam estratégias. "Os alunos vão ter de redirecionar seus estudos. Claro que a mudança causa insegurança. Mas nosso discurso é para que não diminuam o ritmo de estudos", disse Rafael Cunha, diretor do Colégio e Curso Pensi, do Rio, que tem cerca 5mil alunos.
Medida consolida exame como processo seletivo - Para especialistas em avaliação, a adesão da UFRJ ao Enem significa a consolidação do exame como processo seletivo e pode levar outras universidades - especialmente federais - a também substituírem seus vestibulares. "É uma medida econômica e interessante", diz Isabel Cappelletti, da PUC-SP. "Mas ainda falta verificar se o Enem é realmente democrático e favorece os egressos da rede pública."
A tendência, afirma Mateus Prado, presidente do Instituto Henfil, é que as federais que já usam o Enem de alguma forma o adotem com o critério único. "Essa decisão é muito mais por estarem cada vez mais próximas do governo federal que pelo o que foi o Enem nos últimos anos, com tantos problemas."
Estaduais - Algumas universidades estaduais já adotam o Enem como critério único na seleção. Em São Paulo, porém, a situação é diferente. A USP diz que não usará o exame neste ano por causa da incompatibilidade entre o calendário de seu vestibular e a divulgação do Enem. Na Unicamp, o uso do Enem é opcional e vai compor até 20% na nota obtida na primeira fase. Mas neste ano, o cálculo será feito na definição das notas finais dos candidatos, após a segunda fase. No vestibular de meio de ano da Unesp, o Enem ajudou a compor o resultado.
Educadores não creem que as paulistas chegarão a aderir plenamente. "Acredito que podem tentar usar como parte da nota", diz Leandro Tessler, coordenador de relações institucionais da Unicamp. Mauro Bertotti, da USP, concorda. "Pode voltar como era antes, para ajudar na primeira fase da Fuvest", diz.
"Acho que USP e Unicamp, pelo menos nos próximos três anos, não deverão adotar. A tendência é que utilizem parcialmente e não deixem de fazer seus vestibulares. Se alguma estadual paulista aderir, deve ser a Unesp, porque tem o vestibular mais parecido com o modelo da prova do Enem", afirmou Prado.

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