''Ao publicar, vemos a importância de nossa pesquisa''

Publicado em 16 de agosto de 2011 às 10h55min

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Entrevista

Autor de 750 artigos científicos, Kurt Wüthrich - Prêmio Nobel de Química em 2002 - afirma que, ao publicar, o cientista descobre a importância de sua pesquisa, além de se deparar com eventuais lacunas. "O processo normal é começar a escrever e, então, voltar para o experimento." Wüthrich foi laureado pelo desenvolvimento da espectroscopia de ressonância magnética nuclear (RMN) para determinação da estrutura tridimensional de proteínas. O químico conseguiu estudá-las em solução, ambiente mais próximo do qual atuam as células vivas.
Professor de biologia estrutural no Instituto de Pesquisa Scripps, nos EUA, e de biofísica no Instituto Federal de Tecnologia da Suíça, Wüthrich está em Campinas (SP) para participar, até quinta-feira, de um evento da Escola São Paulo de Ciência Aplicada sobre Produtos Naturais, Química Medicinal e Síntese Orgânica com outros três vencedores do Nobel.
O evento, realizado com o apoio da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Universidade Estadual Paulista (Unesp) e Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), será transmitido ao vivo pelo site espcachemistry.iqm.unicamp.br/ESPCA. A seguir, trechos da entrevista:
Que mudanças o senhor sentiu na forma de fazer pesquisa e se dedicar à ciência após ganhar o Prêmio Nobel?
Houve uma mudança profunda: se eu não tivesse recebido o Prêmio Nobel, eu teria de ter me aposentado na Suíça. Depois do meu Nobel, a Suíça mudou a lei. Permitiu que pessoas continuassem trabalhando após certa idade. Eu ganhei o prêmio, completei 65 anos e continuei trabalhando na Suíça, nos EUA e na Coreia.
Quais avanços feitos após sua descoberta o senhor considera importantes na pesquisa em ressonância magnética em solução e no estudo das proteínas?
A primeira estrutura foi descoberta há 27 anos. A técnica de RMN avançou muito do ponto de vista de equipamentos. Hoje há maquinas que atingem maior precisão e rapidez. Então tivemos muita melhora na química e um tremendo avanço na tecnologia. Os equipamentos atingem muito mais potência e precisão na hora de adquirir espectros. Fico feliz, porque vi a origem desses fenômenos e sua melhora. E hoje milhares de cientistas se beneficiam dessa técnica.
Na época da pesquisa, o senhor imaginava que sua descoberta fosse ser tão aplicada? Havia a expectativa de um reconhecimento no nível do Nobel?
Não, claro que não. Eu não acho que você possa esperar isso quando está pesquisando.
O senhor recebe muitos convites para palestras, conferências e eventos no mundo inteiro. Qual a importância de participar desse evento no Ano Internacional da Química no Brasil?
Neste ano fui convidado para cinco congressos no Brasil e escolhi um em que eu pudesse estar sem interferir nos meus outros compromissos. Já estive no Brasil, recebi estudantes e colaborações de cientistas brasileiros. E gosto de vir para cá, pois acho extremamente interessante saber o que é produzido pela ciência brasileira.
O senhor tem experiência como professor. Quanto tempo um cientista deve se dedicar a um e a outro caminho para ter sucesso em sua carreira?
Eu sempre gostei de dar aulas e ainda gosto de ensinar. Dei até aulas de esportes. Mas é difícil conciliar, pois pesquisas tomam muito tempo. Dou 11 horas de aula por semana. Mas as horas de aula não contam como horas de pesquisa.
No Brasil há uma grande preocupação dos jovens mestrandos e doutorandos em alcançar números altos de publicações. O senhor considera isso natural ou é uma pressão excessiva sobre esses cientistas?
Eu tenho 750 registros em publicações científicas ou livros. É importante publicar, por muitas razões. A mais importante é que, quando você publica, descobre a importância que isso (a pesquisa) representa. É preciso cuidado, pois, ao escrever, você encontra várias lacunas. Não são erros, mas você vê que está faltando conexão. O processo normal é começar a escrever e, então, voltar para o experimento. Publiquei pela primeira vez em 1963 e, em 48 anos, tenho 750 publicações.

Estadão
 

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