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Publicado em 24 de agosto de 2011 às 09h07min
Tag(s): Sisu
Números de um levantamento feito pela Secretaria de Educação Superior do MEC mostram que 1.714 alunos mudaram para a cidade, 15% do total de migrantes do Sisu. Em relação ao primeiro semestre de 2010, houve um crescimento de 51%.
Bem-vindos ao Rio de Janeiro. Uma placa com esse texto poderia estar pendurada na porta de algumas das universidades fluminenses. É que o Rio foi o estado que mais recebeu estudantes de outras partes do País no primeiro semestre deste ano, por meio do Sistema de Seleção Unificada (Sisu), do Ministério da Educação (MEC).
Números de um levantamento feito pela Secretaria de Educação Superior do MEC mostram que 1714 alunos mudaram para a cidade, 15% do total de migrantes do Sisu. Em relação ao primeiro semestre de 2010, houve um crescimento de 51%.
O forte aumento pode ser explicado pela oferta maior de vagas no sistema, já que no período houve a adesão integral da Uenf e parcial de UFRJ e UFF, com 60% e 20% de suas vagas, respectivamente. O número pode aumentar ainda mais no ano que vem, uma vez que a Federal do Rio aderiu totalmente ao Enem, acabando com seu vestibular.
O baiano Rafael Magnum Silva, de 21 anos, trocou Salvador pelo Rio de Janeiro no início do ano. Ao ser aprovado para o curso de Enfermagem da Unirio, ele contou com o apoio da mãe na mudança. Feliz, não se arrepende. Só o incomoda os deslocamentos entre os vários campi e o trânsito da cidade.
"Quando vi que passaria pela previsão da nota de corte da Unirio no Sisu, me decidi. A principal dificuldade de adaptação foi o trânsito, que é muito ruim. Até porque faço aulas na Urca e no Centro e moro na Tijuca", diz Rafael, que aponta o mercado de trabalho como um diferencial. "Não voltaria para lá agora. As oportunidades aqui são muito maiores."
Desde a implantação do Sisu, a mobilidade era considerada pelo MEC um dos seus maiores benefícios. No entanto, a taxa nacional de estudantes que mudaram de estado para estudar caiu de 25%, em 2010, para 15%, em 2011. Para o secretário de Educação Superior do ministério, Luiz Cláudio Costa, a queda é natural e justificável. "Houve um crescimento muito grande na oferta entre essas duas edições. Em 2010 foram cerca de 47 mil vagas e, em 2011, 83 mil. Na medida em que há esse aumento, a tendência é de estabilizar a mobilidade. Isso ocorre porque a oferta em universidades próximas ao estudante é maior, e o movimento tende a ocorrer em casos específicos", explica Costa.
No caso de Antônio José Gonçalves, de 19 anos, a busca por uma boa formação motivou a vinda para o Rio de Janeiro. Nascido e criado em Guaçuí, no interior do Espírito Santo, ele tentou passar para Medicina no Sisu. Ao ver que sua nota no Enem não seria suficiente, mudou sua opção para Enfermagem. "A família do meu avô é toda do Rio, sempre vinha passar férias aqui. Para fazer faculdade, era necessário sair de lá. Meus pais mandam dinheiro para me sustentar, mas preciso controlar os gastos", afirma Antônio, que já morou em uma república com outros dez estudantes na Tijuca e, agora, divide um apartamento com um colega em Vila Isabel.
No outro lado do fluxo estão São Paulo e Minas Gerais, estados que mais "exportaram" candidatos. Juntos, os dois responderam por metade de todas as migrações ocorridas. Só do primeiro saíram 4327 pessoas. Nesse troca-troca, o destino principal dos mineiros foi o Rio; o dos paulistas, Minas.
Curiosamente, Minas Gerais é o estado que conta com o maior número de universidades federais, 11 no total. Dessas, oito aderiram integral ou parcialmente ao Sisu. Já em São Paulo, apenas duas instituições estão no sistema: a Universidade Federal do ABC (UFABC) e a Universidade Federal do Estado de São Paulo (Unifesp).
Já Paraná, Tocantins e Pernambuco passaram por uma espécie de "invasão estrangeira": cerca de um terço das matrículas realizadas foi de estudantes de fora. O número impressiona porque, somadas, as instituições desses estados no Sisu são apenas seis. Já no Distrito Federal e em Rondônia, só 3% dos inscritos permaneceram no estado, devido ao baixo número de vagas oferecidas.
De acordo com Costa, o MEC acompanha com lupa a evolução das migrações. Críticos da proposta do Sisu argumentavam que havia o risco de estudantes de estados mais ricos ocuparem vagas em instituições de estados mais pobres, aprofundando a desigualdade. "A ideia do sistema sempre foi tornar o acesso ao ensino superior mais democrático e justo. E esse objetivo tem sido atingido. Não existe isso de gente do Sudeste indo ocupar vagas no Nordeste. Quando há, é pontual. E, mesmo em cursos mais delicados, nosso acompanhamento mostra que não ocorreu', diz o secretário.
Os números corroboram a fala de Costa. Dos estudantes que saíram de São Paulo, o estado mais rico do país, só 4,13% foram para universidades localizadas nas regiões Norte e Nordeste. Em Minhas Gerais, esse mesmo número foi de 10,7%; e, no Rio de Janeiro, de 17%.
(O Globo)