Potiguar João Almino vence prêmio Zaffari & Bourbon 2011

Publicado em 24 de agosto de 2011 às 11h52min

Tag(s): Literatura



Passo Fundo - Ainda se ambientando a Madri, depois de três anos e meio como cônsul-geral em Chicago, o diplomata mossoroense João Almino trocou nesta semana os 40ºC da cidade espanhola por dias gélidos em Passo Fundo (RS), onde foi anunciada, ontem à noite, sua vitória no 7º Prêmio Zaffari & Bourbon de Literatura, pelo romance "Cidade Livre" (Record).|
Quinto livro de uma série que tem Brasília como pano de fundo, "Cidade Livre" seguiu uma tradição das obras anteriores do autor ao superar 227 outros romances na escolha do júri - dos cinco títulos de Almino que envolvem a capital federal, apenas o segundo, "Samba Enredo" (1994), não recebeu nenhuma honraria importante no País. Mas o Zaffari & Bourbon, como lembra, oferece hoje ao vencedor "o maior prêmio brasileiro não estatal", R$ 150 mil.
"Fico contente sobretudo porque estou em boa companhia. Aqueles que foram previamente premiados são todos bons escritores", diz, sobre nomes como Mia Couto e Cristovão Tezza. "Isso sem falar na minha concorrência nesta edição. Havia lido vários dos dez antes mesmo de serem finalista0s, era muita coisa boa", comentou hoje pela manhã, durante entrevista coletiva na 14ª Jornada Nacional de Literatura de Passo Fundo, o diplomata, reconhecido pelo apoio que dá à causa da literatura brasileira no exterior. Assim como na ficção, Almino tem várias passagens por Brasília - viveu na cidade por um período antes de cursar o Instituto Rio Branco e, depois, nas funções de diplomata. Descobriu no local uma cidade que serve também como metáfora. "Não é só uma cidade, é um projeto que acompanha toda a história do Brasil independente, associada a esse sonho de modernização."
Nascido na cidade norte-riograndense de Mossoró em 1950, dez anos antes da fundação de sua cidade-personagem, Almino disse que via desde o começo dois caminhos possíveis para sua ficção. A primeira era o regionalista, desde sempre alimentada pelas várias temporadas que passou no sertão do Ceará e pela leitura privilegiada que pôde fazer de romances como os de Graciliano Ramos na pequena biblioteca de seu pai. Mas sentiu que a segunda permitiria maio inovação. "A ideia de tratar de Brasília coincidiu com o momento em que havia uma mudança política importante no Brasil. Achava que a literatura tinha que tomar um rumo novo. Não podia ser aquela literatura altamente engajada do ponto de vista da crítica e do regime militar. Precisava de um horizonte novo, e Brasília era um espaço vazio naquele momento", conta, sobre o caminho que o levou a Ideias para Onde Passar o Fim do Mundo, de 1987, e às obras subsequentes. Almino buscou em todas as obras um diálogo, não necessariamente central, com os novos meios de comunicação, mas é em Cidade Livre que essa característica se manifesta de forma mais clara. Embora o romance aborde, como os outros, o período de formação da cidade, para escrevê-lo o autor recorreu a uma linguagem de blog, ferramenta de publicação usada pelo narrador na história como instrumento para colher informações para o livro que pretende criar.

Tribuna do Norte
 

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