Experimento pH do Planeta mobiliza o País e muda a percepção dos alunos em relação à química

Publicado em 11 de outubro de 2011 às 16h28min

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Caio Henrique de Oliveira, aluno do 3º ano do Colégio Estadual Governador Roberto Santos, em Salvador, recentemente saiu da sala de aula com um grupo de 20 colegas para passar o dia no Dique do Tororó e no Porto da Barra. A missão: coletar a água desses locais para análise. Poderia ser mais uma corriqueira atividade escolar, mas, na realidade, os estudantes estavam participando de algo muito maior. Um experimento global da água, chamado de pH do Planeta, que envolve diversos países e é uma das atividades do Ano Internacional da Química (AIQ 2011).
"Isso mudou minha percepção da química. Antes eu só tinha a teoria do que era o pH, não conhecia nada na prática. E ainda foi legal participar de um projeto tão importante para o planeta", conta Oliveira, que quer fazer vestibular para engenharia civil. "Hoje me sinto mais consciente e jogo o lixo em seu devido local", acrescenta. "Houve um impacto positivo, pois eles puderam ver mais além da questão matemática do pH, como se aplica e como ele pode influir na nossa vida. Muitos querem retornar para novas coletas", conta Adson Moradillo, professor que acompanhou os alunos do Colégio Estadual Governador Roberto Santos.
O experimento é uma das atividades AIQ propostas pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e pela União Internacional de Química Pura e Aplicada (IUPAC). Rios, lagos, igarapés, nascentes, poços e o mar são os alguns dos objetos de pesquisa da ação, efetuadas por alunos de ensino fundamental e médio de escolas públicas, com a coordenação de seus professores e de professores de universidades.
No Brasil, as atividades estão sendo coordenadas pelos órgãos representativos da química brasileira e o experimento faz parte de um conjunto de ações propostas pela Sociedade Brasileira de Química (SBQ), com a ideia de melhorar a educação e a pesquisa em química no País. O resultado de todos os países envolvidos será apresentado na cerimônia oficial de encerramento do Ano Internacional da Química, em dezembro deste ano, na sede da Unesco, em Paris.
Cláudia Rezende, coordenadora do Ano Internacional da Química no Brasil, explica que a ideia de envolver o Brasil no experimento surgiu na abertura do AIQ, na Unesco. No comitiva brasileira estavam, além de Rezende, os professores Jailson Bittencourt de Andrade (UFBA) e Fernando Galembeck (Unicampa), que se comprometeram inicialmente a reproduzir os kits necessários pelos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs). "Como vem sendo exigido desses INCTs que haja um envolvimento em divulgação, eles assumiram a tarefa e começaram a fazer esses kits no primeiro semestre". A professora afirma que mais de 2000 cadastros já foram efetuados.
Ação - A atividade é simples. Os alunos coletam a água de uma fonte natural local em duas garrafas pet. Ao voltar para a escola, as amostras são analisadas com azul de bromotimol e púrpura de metacresol, soluções que indicam o pH. Os valores médios originados dos resultados da turma devem ser lançados no Banco de Dados Nacional do Experimento Global, juntamente com informações sobre a amostra e a escola participante, dentro do portal nacional de recebimento dos dados Química Nova Interativa (QNInt), da SBQ (http://qnint.sbq.org.br/qni). "São kits com dois indicadores, substâncias que não têm grau toxicidade significativo e de fácil manipulação por qualquer pessoa", esclarece Moradillo.
Rezende conta que apesar dos 2000 usuários cadastrados, apenas cerca de 400 resultados foram enviados. "É legal ter essa participação, mas a gente precisa que as pessoas respondam", alerta. Moradillo e seus alunos já completaram essa etapa. "Agora os estudantes estão trazendo novas amostras, de outras localidades, que podem ser de sua residência ou de uma represa perto de casa, por exemplo", revela, dizendo também que pretendem voltar aos pontos de coleta para outra amostra, já que o pH da água do dique apareceu acima do esperado.
Segundo a professora, o número de kits que serão distribuídos pelo projeto do AIQ, ou seja, fora os dos INCTs, é de 35 mil. "25 mil já estão em etapa final de distribuição porque estão sendo distribuídos pelo grupo da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia", detalha. A Semana Nacional de Ciência e Tecnologia 2011, que acontece de 17 a 23 de outubro, incluiu o experimento entre suas atividades e espera-se que durante a Semana aumente significativamente o número de entradas de experimentos no portal, pois as tendas locais facilitarão o acesso a ele.
"A gente usou essa rede pra poder atingir ao pais inteiro. Nós não poderíamos arcar com esse custo sozinhos e foi um apoio fundamental para capilarizar o projeto no País todo", explica Rezende, lembrando que o projeto não contou com o auxílio do Ministério da Educação e que as ajudas vieram do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação, do CNPq e do Departamento de Popularização e Difusão da Ciência e Tecnologia.
Por enquanto, Bahia e São Paulo são os estados com maior participação, recebendo 1,5 mil e 6 mil kits, respectivamente. "Isso porque eles começaram a ser distribuídos nesses dois estados", esclarece Rezende. Moradillo também destaca o empenho dos professores da UFBA nos resultados da Bahia, em especial uma parceria com a secretaria de Educação, que permitiu a distribuição dos kits no interior do estado.
Cooperação - Rezende destaca outras ações do Ano Internacional da Química que vêm tendo sucesso, como a disponibilização no site do AIQ de sete livros sobre química no cotidiano "em linguagem bem palatável" e também de um livro de experimentos para a sala de aula. Também falou sobre a realização de uma exposição de 20 painéis com quatro temas, química e energia, química na saúde, química e comunicação e química na alimentação e agricultura. Idealizados junto com o Museu da Vida, da Fiocruz, os pôsteres estão disponíveis na internet e auxiliam professores de todo o País em feiras de ciências e como material de apoio.
A coordenadora no Brasil do AIQ também destaca o aspecto colaborativo que vem permeando o universo da química este ano, aproximando a academia das indústrias, por intermédio da Associação Brasileira das Indústrias Químicas, dos sindicatos e dos conselhos regionais. "Se não for assim, a inovação tecnológica nunca virá. Precisamos encantar todo mundo e mostrar que o Brasil precisa de gente que leve a ciência para as pequenas indústrias", ressalta. "Agora todo mundo trabalha junto e foi legal porque estamos afastando aquela ideia de 'só faço se você me der dinheiro'. É uma questão que sobrepõe um pouco o capitalismo", conclui.

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