Surpresas no Prêmio Nobel de Medicina de 2011

Publicado em 18 de outubro de 2011 às 17h17min

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Foi uma surpresa das mais agradáveis tomar conhecimento de que o comitê do Prêmio Nobel de Medicina decidiu conferir a Ralph Steinman, juntamente com os pesquisadores Bruce Beutler e Jules Hoffmann, o Nobel de 2011.
É com grande satisfação que registro este fato por vários motivos. Primeiro, por um conhecido de longos anos ter seu trabalho reconhecido em nível tão elevado. Conheci Ralph Steinman em 1976, ainda como um jovem professor assistente no laboratório de Zanvil Cohn, este uma figura ilustre da biologia celular contemporânea e que dirigia importante laboratório da Universidade Rockefeller, localizado no centro de Manhattam.
Por este laboratório e suas ramificações passaram muitos colegas brasileiros, como Michel Rabinovitich, Nádia Nogueira, John Young, Pedro Persechini, Elzenir Sarno, Michael Nussenszweig, para citar apenas alguns. Foi neste ambiente que Ralph fez sua carreira, ainda que previamente obtivesse excelente formação básica na Universidade McGill em Montreal, Canadá, e na Universidade de Harvard.
Durante muitos anos, sempre que ia a Nova York não deixava de almoçar na Rockefeller e encontrar Zanvil Cohn e seu grupo. Lamentavelmente, Zanvil deixou-nos, subitamente, aos 67 anos, em 1993. Se vivo estivesse, muito provavelmente também estaria entre os ganhadores do Nobel deste ano.
O segundo motivo de satisfação, e que merece registro, é o fato de o comitê Nobel voltar a reconhecer trabalhos básicos de biologia celular. A motivação principal deste prêmio foi a descoberta por Steinman e Cohn de um conjunto de células, conhecidas como células dendríticas, altamente especializadas no processo de captação de antígenos, seu processamento e sua posterior apresentação a outras células do sistema imunológico.
Como consequência, estas células desempenham papel relevante no controle da resposta imune, estando envolvidas em processos que vão desde a rejeição a transplantes a uma participação em processos infecciosos, doenças autoimunes, entre outras. A obra do grupo da Rockefeller constitui excelente exemplo de interface da biologia celular com a imunologia.
O terceiro motivo de satisfação é constatar que vários colegas brasileiros contribuíram para o trabalho desenvolvido pelo grupo de Steinman e colaboradores. Durante alguns anos ele participou de um grande projeto de estudo do papel de infiltrados linfocitários cutâneos bem como do interferon gama na hanseníase. Este estudo foi conduzido em colaboração com o grupo liderado pela Euzenir Sarno que trabalhava na Uerj e hoje se encontra na Fiocruz.
Infelizmente, nem sempre temos somente surpresas agradáveis. Foi com pesar que tomei conhecimento de que Ralph sofria há alguns anos de um câncer de pâncreas e que havia falecido há alguns dias. Logo, não pôde desfrutar da enorme satisfação de ver seu trabalho reconhecido com o prêmio de maior prestígio mundial, embora tenha sido agraciado com outros importantes prêmios, tais como o Robert Koch, em 1999, o Albert Lasker, em 2007, e ter sido eleito membro da Academia de Ciências dos Estados Unidos em 2001.

Wanderley de Souza é professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), diretor de Programas do Inmetro e membro da Academia Brasileira de Ciências e da Academia Nacional de Medicina.

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