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Publicado em 01 de novembro de 2011 às 15h46min
Tag(s): Brasil de Fato
“Dê-me uma alavanca e um ponto de apoio e eu moverei o mundo”. A frase do pensador grego Arquimedes construída na Antiguidade Clássica poderia sintetizar o caminho apontado pelos debates promovidos no 1º Encontro Mundial de Blogueiros, que aconteceu em Foz do Iguaçu (PR) entre os dias 27 e 29 de outubro, quando os 468 participantes de 23 países e de 17 estados brasileiros reforçaram a importância das novas mídias, como os blogs e as redes sociais, no sentido de incluir novos atores políticos no processo de ampliação da democracia. O movimento sindical não esteve alheio a esse debate e, de acordo com a secretária nacional de comunicação da CUT, Rosane Bertoti, em entrevista ao Brasil de Fato, “precisamos continuar investindo nas redes porque é um mecanismo que nos facilita e que está mais ao nosso alcance, mas precisamos através disso mobilizar a luta”, afirma.
Brasil de Fato. Por que é importante que o movimento sindical participe de um espaço como esse?
Rosane Bertoti. O movimento sindical tem de estar integrado a toda ação política de seu país. E esse tema das novas mídias, dos blogs, é questão estratégica. Para a CUT, a comunicação em si é uma questão estratégica, no viés da democratização da comunicação e no viés da própria estrutura interna, de dialogar com sua base. Estamos aqui aprendendo com experiências de outros países e afinando a relação com o mundo dos blogs, afirmando nossa posição em relação à luta pela democratização da comunicação. Por isso o movimento sindical tem de estar articulado com o mundo dos blogueiros e das novas mídias.
Mas a grande mídia ainda está pautando os temas para uma grande parte da classe trabalhadora no Brasil. Como você vê isso?
Hoje o papel das novas mídias consegue fazer contraposição à velha mídia, mas ainda está muito aquém do que o Brasil e os trabalhadores precisam. Há uma grande parte dos trabalhadores que conseguiu perceber as novas tecnologias, se articular nas redes sociais, buscar essa informação. Mas ainda há uma grande massa, que é maior do que a primeira, que ainda está pautada pela imprensa tradicional. Temos de continuar fazendo investimentos nas novas mídias e redes, mas não podemos abandonar bandeiras históricas de democratização da comunicação. A luta seria outra se, por exemplo, o MST tivesse um canal de televisão. A luta da CUT seria outra se tivesse um canal. Precisamos continuar investindo nas redes porque é um mecanismo que nos facilita e que está mais ao nosso alcance, mas precisamos através disso mobilizar a luta. O marco regulatório, mudanças nas concessões, mudança no financiamento público nas estatais, o Plano Nacional de Banda Larga, tudo isso tem de estar na nossa pauta porque elas se articulam entre si.
Como você vê o risco de que as novas mídias sejam vistas como fins em si mesmas, em vez de instrumentos de ação?
Não sou das pessoas que acham que pela internet se resolve tudo. Sem acesso a internet, não tem como articular, buscar informação. A partir da internet você ramifica sua ação, mas ação é com o povo na rua. Internet é um instrumento para chamar, mas a mobilização se faz com o calor do povo, com ginga, com raça, é dessa forma que vamos articular a luta.
Trabalhar com as redes sociais cria referência para a juventude, tendo em vista que a maior parte da classe trabalhadora hoje é jovem?
Se você olhar para o público que está aqui, a maioria é jovem. Há um público ressurgindo que vem através das redes sociais. A nossa juventude viveu uma certa efervescência no período anterior à ditadura, do movimento estudantil, de construção das bases dos movimentos sociais, que deu origem a grandes partidos e movimentos, que deu origem à CUT, ao MST. Só que aquilo foi uma efervescência. Eu tenho uma filha que tem hoje 20 anos e quando ela começou a viver esse mundo todas essas mobilizações já tinham passado. Ela tem de ressignificar sua ação enquanto jovem para se colocar em luta e em um processo de mobilização, acho que as redes sociais cumprem esse papel. Agora, volto a frisar, ela não pode ser apenas um espaço de rede por si, na sua horizontalidade, precisa estar articulada com uma ação porque senão se tornará a ação. Os princípios, a ideologia, o que nos move, o que movia as pessoas antes da ditadura, a democracia, muitos desses princípios nos movem até hoje. Mas as formas de agir são diferentes ao longo do tempo. Se você olhar para o movimento sindical, quando a CUT nasce, você fazia o movimento na porta da fábrica. Hoje você não consegue fazer movimento na porta da fábrica apenas. Você tem de estar dentro da fábrica, tem de estar no local de trabalho, dialogar com o trabalhador que está na sua casa com sua família, na comunidade onde ele vive, com o círculo de convivência do trabalhador, e as redes sociais possibilitam isso. Mas o que nos move e sempre nos moveu são os objetivos da democracia, do trabalho decente e digno, do ser humano. Esses princípios têm de estar presentes, e quando você consegue articular com esses novos elementos e com a juventude é muito bom.