Ilê Aiyê: 37 anos de afirmação da negritude brasileira

Publicado em 03 de novembro de 2011 às 09h44min

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Um dos grupos mais importantes da Bahia, o Ilê Aiyê, completou 38 anos nesta terça-feira (1º).
Ele foi o primeiro bloco afro da Bahia. Iniciou sua história no Curuzu, bairro da Liberdade, que é o bairro com maior população negra do país. O bloco nasceu no Terreiro de Candomblé de nação Gêge-nagô Ilê Axé Jitolu, comandado por Mãe Hilda dos Santos. Sào, portanto, 37 anos de afirmação da negritude brasileira.
O Ilê Aiyê
No carnaval de 1975, Apolônio de Jesus, Antonio Carlos dos Santos (Vovô) e cerca de 100 moradores da Liberdade levaram para a avenida o primeiro bloco afro de Salvador. Era uma época estimulante, marcada pelo movimento “Black Power” dos negros norte-americanos e pela formação dos Estados Nacionais Africanos.
Desde então, o Ilê se dedica a exibir nos desfiles toda a riqueza cultural da África, em suas origens. Era uma forma de afirmação da identidade negra, uma ação cultural de caráter político, já que revelava uma mobilização e denunciava, com o exclusivismo étnico, a intolerância racial. Uma intolerância especialmente visível no carnaval, quando a festa dos negros ficava restrita à Baixa dos Sapateiros, clubes e agremiações de bairro. O bloco foi um dos primeiros a manter uma associação cultural para preservação das tradições culturais africanas na Bahia.
A música do Ilê Aiyê é calcada numa mistura entre o ritmo dos atabaques do candomblé e o samba duro dos tambores, aliado à potência das vozes. As roupas do Ilê Aiyê são preparadas a partir de pesquisas prévias sobre povos e regiões da África, fonte de conteúdo também para as letras das músicas, carregadas de expressões em iorubá.
Nesse passo e nesse axé dedico esse poema ao mais belo dos belos que somos negros Ilê Aiyê por estar mantendo firme o proposito da sua existência.
Ilê Aiyê casa grande Barro Preto Curuzu.
Ilê Aiyê Liberdade o negro cantou
Não mais escravos, não mais oprimidos.
Negros buscam os direitos dos homens livres.
Ilê Aiyê, esse é meu nome, esse é meu canto é o nosso grito,
Negros nós somos!
Só não somos bandidos.
Esse é o canto do homem negro livre
Igualdade e direitos não nos tirem
São trinta e sete anos de existência na luta contra o racismo
Nasceu na Liberdade o Bloco Negro mais lindo.
Ecoando para o mundo o fim do racismo.
Que nesses trinta e sete anos de vida e existência/resistência do Ilê Aiyê. Nesse gesto singelo de homem negro homenageio a Saudosa Mãe Hilda, negro Apolonio, Jonas e tantos outros e outras que no seu canto de guerra aqui no plano da terra deram parte da sua existência para cantar e lutar pela cultura e afirmação do povo negro no combate ao Racismo. Por fim, sinta-se homenageado meu irmão Vovô do Ilê Aiyê por manter firme a direção desse patrimônio imaterial do povo baiano, brasileiro que é o Ilê.
*Roque Assunção da Cruz (Roque Tarugo). Negro, Espirita, Comunista, Poeta, Bacharel em Direito, Filosofia, Teologia, Especialização em Economia do Trabalho, e Ciências Políticas, Advogado, Doutorando em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade Del Museo Social Argentino.
 

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