Livro traça perfil de Chico Buarque através de suas entrevistas

Publicado em 01 de dezembro de 2011 às 12h45min

Tag(s): Cultura



Em 1967, Chico Buarque resumia sua carreira à revista ‘Fatos e Fotos’: “Quis ser palhaço, bombeiro, intelectual, jogador de futebol, padre, deputado, ladrão de automóveis, galã e arquiteto. Nada deu certo e acabei tocando violão”.
O artista pelo próprio, através de entrevistas e fotografias em jornais e revistas ao longo da carreira, além de belas descobertas em arquivos da família compõem o livro ‘Chico Buarque: Para Seguir Minha Jornada’ (Ed. Nova Fronteira, 429 págs., R$ 59,90), da jornalista Regina Zappa, já nas livrarias
“Chico falava mais livremente quando jovem, na época anterior ao culto às celebridades, à perseguição dos paparazzi”, diz Regina. “Desde a primeira entrevista de três horas, aos 22 anos, ao Museu da imagem e do Som (MIS), até hoje, sobressaem a coerência no pensamento e a maturidade precoce”.
O trabalho criterioso de pesquisa, detonado pelo vasto material colecionado por Cecília Buarque de Hollanda, tia do compositor, revela um Chico que, famoso pela discrição, abre a alma como poucos quando fala. Dividido cronologicamente, como muitas cartas e manuscritos, o ‘almanaque’ de Regina vai de 1944, nascimento do compositor, aos dias atuais.
Em 1980, à revista ‘Manchete’, ele confessou precisar de três doses de uísque antes de entrar no palco para acabar com a “tremedeira nas pernas” e conseguir cantar. E pouco depois afirmou, à revista feminina ‘Claudia’: “Está me faltando um filho homem”. Sobre sua relação com as mulheres, cantadas em primeira pessoa em muitas canções, o resumo veio num DVD gravado em 2005: “Me sinto como um ‘voyeur’ diante das mulheres e gosto de observá-las, não ser observado”.
A experiência com drogas rende passagens divertidas, quando Chico diz que foi só no básico (“fumei, cheirei, tomei ácido”), mas largou tudo. “Nunca fui um bom maconheiro”, afirma. E conta que tentou fumar para curar a insônia, mas a droga o excitava.
Estão também nas páginas um bate-papo entre a escritora Clarice Lispector e Chico, publicado em 1968, e a hilária entrevista concedida ao jornal ‘Última Hora’ por Julinho de Adelaide, pseudônimo do compositor para driblar a censura durante o governo militar. Filho de Dona Adelaide, moradora da Rocinha, Julinho era um cantor de rádio que não se deixava fotografar porque precisava “preservar a imagem”.
Lembranças de Chico
ELEFANTE. Chico Buarque era criança na casa da Rua Haddock Lobo, em São Paulo, e um dia avisou aos pais que havia um elefante no quintal. Maria Amélia, a mãe, o mandou para o quarto estudar. O pai, Sérgio Buarque, intelectual importante, retrucou: “Joga no lixo”. E os pequenos olhos verdes prosseguiram fascinados diante do animal gigante e real que fugira de um circo. A passagem é descrita em reportagem de 1967, da revista ‘O Cruzeiro’.
CUECA. Em 1968, em Nova York, Chico foi à casa do então cunhado João Gilberto e depois disse que eles haviam feito um curta-metragem cujo tema era uma cueca gigante, que eles mandaram fazer e foi vestida por sete pessoas. A história foi contada na revista ‘Contigo’.
SAPATO FURADO. Em 1969, a falta de cuidado com a imagem é descrita com o humor habitual à revista ‘Fatos e Fotos’: “Não tenho um barbeiro especial e o cabelo aparece cada vez de um jeito. Uso um par de sapatos até furar e minhas calças são meio largas”.
Fonte: Portal Vermelho
 

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