Fernando Lázaro toma posse no CBPF

Publicado em 19 de dezembro de 2011 às 18h16min

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Tomou posse na manhã de hoje (19) como diretor do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) o físico Fernando Lázaro Freire Júnior. A cerimônia, que contou com as presenças do secretário executivo do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Luiz Rodrigues Elias, e do Subsecretário de Coordenação das Unidades de Pesquisa (SCUP/MCTI), Arquimedes Ciloni, mais uma vez reforçou o êxito do processo, já consagrado entre os institutos de pesquisa do MCTI, para escolha de seus dirigentes.
Selecionado por um Comitê de Especialistas, o novo diretor do CBPF foi indicado pelo ministro Mercadante com base em uma lista tríplice de candidatos deliberada pelo Comitê.
Fernando Lázaro, que pesquisa materiais nanoestruturados à base de carbono, tais como filmes finos, nanotubos e grafeno, fez toda sua formação e boa parte do seu percurso profissional na Física da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), departamento que dirigiu entre 2003 e 2008 e onde é professor desde 1985.
Lázaro é autor de cerca de 150 artigos científicos que receberam mais de duas mil citações, tendo sido premiado pela Capes-ISI em 2000 pelo trabalho de autoria exclusivamente brasileira mais citado na área de Materiais na década de 1990.
Na Faperj, onde atualmente coordena a área de física e astronomia, esteve à frente do Instituto Virtual de Nanociência e Nanotecnologia, núcleo que organizou as primeiras iniciativas do estado nesse tema. Foi ainda presidente da Sociedade Brasileira de Pesquisa em Materiais (SBPMat) e coeditor da Europhysics Letters, revista publicada pela European Physical Society e de cujo conselho editorial ainda participa.
Entrevistado pelo Portal do CBPF, Fernando Lázaro falou das suas principais metas e expectativas ao assumir este novo desafio.
CBPF - Qual é a sua visão sobre o papel do CBPF no cenário científico nacional?
FL - A minha visão é a que está expressa no Plano Diretor. A missão do CBPF nos próximos quatro anos é se consolidar como instituto nacional de física, com destaque na comunidade de física nacional e presença disseminada em redes de colaboração - como a Rede de Altas Energias [Rede Nacional de Fusão e Altas Energias - RENAFAE] e o ICRANet [Rede de Institutos de Cosmologia, Relatividade e Astrofísica] - com laboratórios estratégicos regionais funcionando em regime aberto, como o Labnano [Laboratório Multiusuário de Nanociência e Nanotecnologia], e sedes regionais para atender a especificidades locais, como é o caso hoje no Pará [O CBPF tem um campus avançado integrado à Universidade Federal do Pará]. Se ao final do mandato eu tiver atingido a meta de ampliar a presença do CBPF no cenário nacional, acho que terei cumprido a sua missão maior nesses próximos quatro anos.
Há posições que estão consolidadas. A pós-graduação do CBPF é pela segunda vez consecutiva nível 7 da Capes. Isso significa que, pelos padrões brasileiros, o programa acadêmico atingiu ponto de excelência. Há desafios menores, por exemplo, consolidar e ampliar o Mestrado Profissional. Mas, no geral, no que diz respeito à formação de recursos humanos e aos índices de produtividade na pesquisa, a instituição vai muito bem. Basta olharmos o quadro de pesquisadores com bolsa de produtividade do CNPq, que é a maneira de termos uma aferição externa da qualidade do CBPF. O desafio agora é manter esses indicadores e resultados, e levar essa cultura de excelência para outras regiões.
CBPF - Há alguns anos acumulando atividades acadêmicas e de gestão na PUC-Rio, como o senhor avalia esta nova experiência de trabalhar em um centro de pesquisas do governo?
FL - De fato, a experiência que eu tenho é a de gestor de uma entidade de direito privado. Não-lucrativa, enfim, mas ainda assim regida pela CLT e fora do alcance da lei de licitações. Então, desse ponto de vista, administrar o CBPF é para mim algo totalmente novo, um desafio. Um outro aspecto desse desafio, no entanto, é o de ser gestor dos próprios pares. Isso obriga a ter uma conduta cuidadosa, saber ouvir os grupos, ponderar, conciliar posições. Não é como fazer gestão de pessoas numa fábrica, por exemplo, em que podem prevalecer critérios diferentes, como produção, custo e lucro. Numa instituição pública dessa natureza, e mesmo numa universidade privada, os parâmetros e instrumentos legais, como a estabilidade, por exemplo, são outros. Nesse sentido, uma entidade acadêmica privada como a PUC-Rio não é muito diferente do CBPF, a UFRJ ou da USP.
CBPF - Recentemente o termo "inovação" foi incorporado como linha de ação do nosso Ministério, que passou a se chamar Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Na sua visão, como uma instituição tradicionalmente voltada para a pesquisa básica, como o CBPF, pode contribuir para a inovação?
FL - Na minha visão inovação não é feita no centro de pesquisas. Inovação é feita na indústria, no setor de serviços, e assim por diante. Também considero que inovação não está necessariamente relacionada a um produto. A Petrobras é uma empresa inovadora - e inovadora em processo: processo de exploração, de produção de petróleo em águas profundas... Muito do que é produzido num centro de pesquisas em física pode ser aproveitado imediatamente pela Petrobras e por outras empresas. Por exemplo, o trabalho em magnetismo orientado para o desenvolvimento de sensores magnéticos para inspeção de dutos ou as pesquisas em computação de alto desempenho, ou ainda a estatística de Tsallis quando aplicada a um problema do mercado financeiro... Muitos são os exemplos que mostram que a pesquisa básica não é algo que se contrapõe à inovação. Ao contrário, muitas vezes a inovação decorre diretamente da pesquisa básica.
CBPF - Atualmente, um terço do corpo funcional do CBPF tem condições de se aposentar. Como senhor pretende administrar esse desafio?
FL - Recentemente foi liberado um certo número de vagas para o MCTI, que em curto prazo vai beneficiar não só o CBPF, mas todos os institutos de pesquisa do Ministério. Em relação às aposentadorias, seria ideal que houvesse um mecanismo de reposição de quadros semelhante ao que existe hoje nas universidades. Isso certamente seria do interesse de todos os institutos de pesquisa, e tentar viabilizar uma estrutura para reposição de pessoal pode vir a ser uma estratégia conjunta de ação de longo prazo.
CBPF - Como o senhor pretende ampliar o papel do CBPF para consolidá-lo de fato como instituto de caráter nacional?
FL - Bem, como eu já disse, essa é uma das missões maiores do CBPF e uma das principais metas do meu mandato. O campus de Belém, no Pará, já está em fase de implantação, com apoio do governo do estado, da Fapespa [Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado do Pará] e da universidade. Outras especificidades e demandas locais, além dessa mesma estrutura de suporte, podem viabilizar novos campi em outras regiões do País. Uma outra forma de ampliar a atuação do CBPF, que eu considero importantíssima e pretendo fortalecer, é por meio da oferta de laboratórios abertos, como o Labnano, que também já mencionei e que já está atendendo a grupos de pesquisa em nanotecnologia de vários pontos do país, e não apenas da região sudeste. O Labnano é uma experiência pioneira no Brasil - e bastante rica - de operacionalizar numa instituição tradicional e com cultura de gestão já estabelecida, como o CBPF, um laboratório aberto.
CBPF - O CBPF está envolvido em projetos de grandes colaborações internacionais, especialmente na área de física de altas energias. Qual é a sua visão do papel do CBPF nesses programas?
FL - A física de altas energias está na tradição de pesquisa CBPF. Acho até que posso dizer que está no seu DNA, já que Lattes, Tiomno e Leite Lopes, seus fundadores, lançaram as bases da física de altas energias aqui no Brasil. Então, o CBPF tem claramente um peso importante na comunidade nacional de altas energias, e a RENAFAE está fazendo um trabalho importantíssimo, fundamental, eu diria, de reunir os grupos e discutir as grandes questões da área. A comunidade de altas energias está satisfeita e apoia essa estrutura de trabalho, por meio dos comitês técnico-científicos. Eu acho, por isso, que instrumentos de colaboração em física de altas energias estão bem equacionados com a RENAFAE e que a Rede deve ter um mecanismo de financiamento de longo prazo, que garanta sua continuidade. Além da RENAFAE e do ICRA, o CBPF está envolvido em outras redes de colaboração, como o LINeA [Laboratório Interinstitucional de Astronomia], com o LNCC [Laboratório Nacional de Computação Científica] e o ON [Observatório Nacional]. Este ainda precisa de formas de financiamento institucionalizadas.

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