Formação em educação básica é um dos grandes desafios para a pós-graduação

Publicado em 09 de março de 2012 às 15h14min

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Promover a educação primária e secundária de qualidade é "um dos maiores desafios do Brasil neste momento, talvez o maior deles", de acordo presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Jorge Guimarães, que nesta quinta-feira (8) palestrou na abertura das sessões científicas da Academia Nacional de Medicina (ANM), realizada na sede da Academia Brasileira de Ciências, no Rio de Janeiro.
Guimarães fez um balanço da situação da pós-graduação no País nos últimos anos, apresentou desafios da década dentro do Plano Nacional de Pós-Graduação (PNPG) e revelou dados do Ciência sem Fronteiras (CsF) aos acadêmicos. O presidente da Capes ressaltou que é a primeira vez que se faz um plano tão longo (de 2011 a 2020) e que o PNPG pretende, entre outras ações, resgatar o trabalho de outros planos, expandir o Sistema Nacional de Pós-Graduação, criar uma agenda nacional de pesquisa, aperfeiçoar a avaliação, estimular a interdisciplinaridade e dar apoio a outros níveis de ensino, como a própria educação básica, que sofre principalmente em matemática e ciências. Ele lembra que a partir dos 14 e 15 anos, a escolaridade começa a cair vertiginosamente no Brasil e que é fundamental a atenção nessa área.
A internacionalização e a cooperação internacional também foram destacadas no PNPG. "Já estavam previstas antes do programa Ciência sem Fronteiras", conta. Guimarães revelou que, uma das conclusões da recente visita da comissão do CsF aos Estados Unidos diz respeito à quantidade de horas de aula. No Brasil, são cerca de 40 ou 45 horas semanais, enquanto nos EUA rondam as 14 horas, pois, segundo os estudantes questionados pela comissão, a cada hora de aula é preciso estudar duas.
"A flexibilidade curricular deve chegar [ao País] com a volta desses estudantes, que vão dar muito trabalho para nossos reitores. O professor agora deve ser um orientador do que o aluno deve buscar na internet e, com isso, propiciar aos estudantes a possibilidade de aprender por si só. É exagerado ter aula demais, é preciso que sobre tempo para aprender e sedimentar o curso", opina.
Dados - A palestra também foi uma oportunidade para detalhar alguns dados do País em relação à produção científica. Guimarães mostrou que o Brasil cresceu nessa área "cinco vezes mais que a média mundial desde 1981". No ranking de 2009, o País aparece em 13º lugar em produção científica, com 32.100 artigos (2,7% da produção mundial). O primeiro lugar cabe aos Estados Unidos, com 341.038 artigos (26,6% da produção).
No entanto, ao detalhar o conteúdo dos artigos, Guimarães explicou que nos rankings das áreas de parasitologia e medicina tropical, o Brasil aparece em segundo lugar, com cerca 12% e 20% da produção científica mundial, respectivamente. Entomologia e Odontologia são outros campos de destaque. "São áreas em que o Brasil deslanchou e precisa se manter. Não se faz avanços desse tipo sem recursos humanos", pontua, lembrando que 90% da produção científica brasileira é realizada na pós-graduação. Hoje existem por volta de 150 mil doutores e 450 mil mestres brasileiros.
Em relação ao crescimento em produção científica nos últimos cinco anos, o Brasil aparece em 9º lugar, com 11,4%. Coreia do Sul foi o país que mais cresceu na área, com 86,7%, seguida por Irã, Turquia e China (esta com 47,8%). "Comparado com o mundo, que cresceu duas vezes nesse período, isso significa que esses países despertaram para a ciência e tecnologia, ainda que tardiamente. Nós crescemos muito, mas ainda há muito que crescer", pondera.
Artigos e doutores - Guimarães afirma que para o País ultrapassar nações como a Índia, Coreia e Austrália no ranking de produção científica, "é necessário manter a proporção de três artigos por tese", exigida atualmente. "Existe uma correlação entre PIB e produção científica no ranking. O Brasil hoje é o 6º em PIB, portanto, tem que avançar muito ainda", destaca. Ele lembra que também é preciso subir a posição do País no ranking de inovação no mundo (onde o Brasil aparece em 47º). Além disso, ressaltou a necessidade de induzir melhorias na pós-graduação nas regiões Norte e Centro-Oeste, onde a especialização é insuficiente.
O presidente da Capes também lembrou que a proporção de doutores por mil habitantes no Brasil é de 1,4, enquanto na Suíça (1º lugar) é de 23 e na Alemanha (2º lugar), de 15,4. Contudo, ressalta que um dos grandes desafios do País está na graduação. "É na engenharia. Dos mais de 800 mil graduados por ano aqui, 47 mil são engenheiros. Mas a demanda é crescente e o maior problema é sua evasão, da ordem de 60%", informa.
Orçamento - O presidente da Capes explicou que o orçamento da agência aumentou 10% em 2012 em relação ao ano passado. Grande parte dele vai para as bolsas, cerca de 76,8%. A necessidade crescente de aumentar as oportunidades aos estudantes (em parte pelo programa Ciência sem Fronteiras) foi uma das razões para fazer crescer o orçamento, pois não se podia mexer na proporção de destinação de recursos, que envolvem também o setor administrativo, o Portal dos Periódicos (que em 2011 teve um investimento de 79 milhões de dólares), avaliação e fomento (segundo maior gerador de gastos, com 12,1% do orçamento da Capes).
De acordo com Guimarães, 65% das bolsas concedidas no Brasil são pela Capes, enquanto 24% são do CNPq e 11% das fundações estaduais. Ele alerta que o orçamento do CNPq não aumenta significativamente "há vários anos". "Isso é muito ruim para nossa sociedade, para nossa comunidade, para a pós-graduação e para a ciência brasileira. Essa situação complica muito o PNPG", acrescentando que, no entanto, os fundos setoriais vêm ganhando espaço.
Entre as recomendações para o sucesso do PNPG, Guimarães destacou algumas como a interação maior entre universidade e sociedade, a diminuição da distância entre o conhecimento acadêmico e as empresas, a atenção para a desordem curricular, os programas de solidariedade com regiões onde a pós-graduação é insuficiente, a criação de centros de excelência de ensino e a tentativa de arriscar mais com projetos "de fronteira", que não tenham garantias seguras de resultados positivos. Áreas como formação em recursos hídricos, Amazônia, energia e criminologia e segurança pública têm capítulos especiais nos livros do PNPG.

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