Serviço de busca ajuda na pesquisa nuclear

Publicado em 25 de abril de 2012 às 09h11min

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Como físico na Organização Europeia para Pesquisa Nuclear, ou Cern, Andrei Golutvin passa seus dias lançando partículas subatômicas umas contra as outras no Grande Colisor de Hadrons (LHC, na sigla em inglês), um anel de 16,8 quilômetros de imãs supercondutores enterrado a 175 metros sob a Suíça e a França. As colisões de alta energia em seu experimento, um dos quatro atualmente em curso no LHC, buscam respostas para alguns dos maiores mistérios da natureza e geram por ano cerca de 20 bilhões de "pontos de dados" - pontos de referência que servem de base para comparações. Pesquisar o enorme arquivo em busca de colisões que correspondam a critérios específicos pode levar horas.
Golutvin ficou cansado de esperar. Poucos meses atrás, ele pediu ajuda à Yandex, empresa de buscas na web predominante na Rússia, sua terra natal, e em 10 de abril as duas organizações divulgaram o resultado da colaboração. Um mecanismo de buscas montado para essa finalidade específica permite a mais de 700 físicos que trabalham no experimento de Golutvin vasculhar instantaneamente cerca de um vigésimo dos dados que eles produzem e modelar buscas de acordo com 600 critérios diferentes, como o tempo de colisão. O software da Yandex também produz códigos de barra que são incorporados em trabalhos científicos, para que outros cientistas possam facilmente acessar os dados subjacentes usando seus smartphones. No geral, a tecnologia "pode encurtar a cadeia que vai da concepção à efetivação" de uma experiência, diz Golutvin.
Yandex está assessorando o grupo de pesquisas gratuitamente, e até mesmo emprestando aos cientistas capacidade de [memória e processamento de] servidores: cerca de 13% do poder computacional para o experimento de Golutvin é suprido pela empresa de Moscou. Andrey Ustyuzhanin, um pesquisador da Yandex, comandou a equipe de cinco pessoas que, em três meses, criou a ferramenta para a Cern. O software vasculhou dezenas de milhares de arquivos espalhados por servidores da Cern, trabalhando à noite, enquanto os cientistas dormiam. Apenas uma parte dos registros existentes na Cern já foram rastreados, mas Ustyuzhanin quer indexar todos os 20 bilhões de colisões de partículas registradas neste ano - um número que supera o volume total de páginas indexadas da web.
O trabalho prestado gratuitamente poderá ajudar a Yandex a manter seu terreno contra o Google, que vem, lenta, porém continuamente, ganhando participação de mercado na Rússia e agora controla 26% das buscas no país. (A Yandex responde por 60%). A doação de tecnologia à Cern, onde o jovem Tim Berners-Lee redigiu o documento que lançou as bases para a World Wide Web em 1989 - é uma grande jogada de marketing, diz Ram Akella, professor de sistemas de informações e gerenciamento de tecnologia na Universidade da Califórnia, em Santa Cruz. Os consumidores podem pensar: "Se essas pessoas inteligentes estão usando a Yandex, nós também talvez devêssemos fazê-lo", diz ele. "Tem tudo a ver com fixação de marca". Isso também poderá ajudar a Yandex no exterior. Desde sua oferta pública inicial de ações nos Estados Unidos, na qual levantou US$ 1,3 bilhão, em maio de 2011, a Yandex abriu dois escritórios na Suíça e lançou seu serviço de buscas na Turquia.
Ustyuzhanin Yandex diz que a empresa ainda não decidiu se assumirá a responsabilidade por projetos científicos semelhantes no futuro. Sem dúvida, existe demanda por esse tipo de serviço, de acordo com Akella, da Universidade da Califórnia. À medida que as pesquisas dependem mais do computador, especialmente em áreas como genética e biomedicina, os cientistas "estão se afogando em dados e não sabem como encontrar o que necessitam", diz Akella. Buscas personalizadas para cientistas "são o Santo Graal", diz ele. O Google oferece uma ferramenta chamada Fusion Tables que ajuda os cientistas a recolher, processar e compartilhar dados. A empresa também doa parte de sua capacidade de servidores para executar cálculos para determinados pesquisadores.
Para a Yandex, construir a tecnologia foi relativamente fácil; vários dos membros da equipe tinham formação em física e compreenderam as necessidades dos cientistas. A parte mais difícil foi descobrir em que lugar os especialistas em tecnologia da informação da Cern armazenavam os dados. "Você tem que encontrar a pessoa que mantém a infraestrutura e tomar um cafezinho com ela", diz Ustyuzhanin, que visitou a Cern duas vezes durante o projeto. "Eu tomei muito café."

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