Para Ângela Ferreira, próxima gestão terá o desafio de consolidar o Novo Movimento Docente

Publicado em 21 de maio de 2012 às 08h00min

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Em entrevista, a professora Ângela Ferreira, eleita presidente do ADURN-Sindicato para gestão de 2012 a 2015, faz uma breve avaliação do resultado da eleição e ressalta os desafios da categoria docente para os próximos três anos.
ADURN-Sindicato - Esta foi uma eleição com chapa única, mas que contou com uma campanha pelo voto nulo. Logo após o encerramento da apuração, a chapa foi proclamada eleita com 89% dos votos, e apenas 3% foram considerados nulos. O que representa este resultado?
Ângela Ferreira - Interpreto este resultado como uma consequência do trabalho das últimas gestões que realmente consolidaram um novo movimento docente e mudaram a direção da prática sindical como um todo, muito mais propositiva e que se pauta muito mais pela negociação, com ideias e resultados. Historicamente, o Movimento Docente tinha uma pauta muito geral, e hoje se volta mais para os professores, para seu cotidiano e especificidades. É tanto que foi formada uma nova entidade, a nível nacional, especificamente para as Instituições Federais de Ensino Superior, o PROIFES-Federação, exatamente para se voltar mais para as questões específicas dos docentes das IFES. Este resultado, então, legitimou este trabalho que vem sendo realizado pelo ADURN-Sindicato nos últimos anos.
ADURN-Sindicato - A senhora já exerceu a vice-presidência da entidade e ocupou a diretoria em outros momentos. Agora assumirá o cargo de presidente após a transformação da ADURN em Sindicato. O desafio é maior?
Ângela Ferreira - Já participei de duas outras gestões, como diretora e vice-presidente, e foi um momento muito difícil, de muito embate político, de muitos conflitos, onde uma minoria decidia os nortes do Movimento Docente e da luta sindical, e geralmente era confronto pelo confronto. Era uma luta pautada em muitas assembleias, com desgastes e agressões, que resultava no esvaziamento dos debates e permitia que esta minoria ganhasse no grito. Não tínhamos como trabalhar, ao contrário. Hoje, só topei este desafio porque o Sindicato se encontra muito mais definido politicamente. Conseguimos uma vitória importante, que foi a desvinculação da Andes, e a transformação da ADURN em Sindicato autônomo, com base territorial, e com muito mais autonomia de luta. Somos filiados a uma outra entidade nacional, que fortalece a luta do sindicato, articulando os sindicatos das IFES em todo o país, mais temos muito mais liberdade de atuação a nível estadual. O desafio agora é consolidar esta nova vertente, este novo movimento que consideramos que caminha no sentido de fortalecer as universidades e o trabalho docente de forma propositiva. Sempre digo que não existe nenhuma categoria de trabalhadores mais privilegiada que os professores universitários. Somos considerados a inteligência do país, então temos toda a capacidade de negociar e ter subsídios teóricos para negociar a altura com o Governo.
ADURN-Sindicato - Foram estas dificuldades, vivenciadas em outros momentos, que fizeram surgir um Novo Movimento Docente nas Universidades?
Ângela Ferreira - Surge fruto da truculência e do sectarismo. Os docentes não aguentavam mais serem direcionados por uma minoria que falava em nome de toda a categoria mas que, na verdade,tinham outros interesses, intenções e objetivos, desgastando muito o movimento. Já existia anualmente no calendário dos professores a greve, todo ano eram realizadas paralisações, mas a taxa de adesão foi diminuindo. Então, cerca de 10% a 20% dos docentes faziam a greve, mudava todo o calendário acadêmico e trazia prejuízo para toda a categoria. Sem falar que a própria sociedade não apoiava, não aceitava mais. Muitos alunos passaram a cogitar estudar em Universidades particulares para ter a garantia de que terminariam o curso. A ideia do movimento docente no passado era primeiro a greve para fazer pressão e depois vamos negociar sob pressão. Era uma concepção que não trazia mais resultado e exigia do Movimento Docente uma mudança de postura. Precisaríamos esgotar todas as possibilidades para depois, se necessário, poder entrar em greve.
ADURN-Sindicato - O que os docentes da UFRN podem esperar dessa nova gestão?
Ângela Ferreira - Será uma gestão que irá consolidar essas propostas que já vem sendo implementadas pelas gestões anteriores, da prática política em si, e se voltar mais para as questões específicas dos docentes, para o seu cotidiano nas Universidades. Hoje, como já coloquei aqui, a pauta do movimento docente quando da sua criação, no período da Ditadura Militar, quando se buscava a redemocratização do país, já está superada. Hoje vivemos um novo momento, em que, após muita luta, conquistou-se o Estado de Direito, mais aberto e democrático. É um momento diferente e que, por isso, exige uma luta diferente. Então, esta pauta mais geral já foi superada e precisamos nos voltar para os problemas mais específicos, das condições de trabalho.
ADURN-Sindicato - Quais os desafios colocados para o Movimento Docente nos próximos três anos?
Ângela Ferreira - Eu considero três eixos muito importantes. A questão do novo regime de Previdência, que precisa ainda ser muito debatido para entendermos como vai funcionar e poder ainda influenciar, a reestruturação da Carreira e a busca pela recuperação das perdas salariais, que hoje giram em torno de 14%. As demais lutas dizem respeito ao dia-a-dia dos Docentes nas Universidades.
 

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