Pesquisa desenvolvida em INCT é capa de revista internacional

Publicado em 24 de maio de 2012 às 09h27min

Tag(s): SBPC



Radicais livres são produtos inevitáveis do nosso metabolismo, que utiliza oxigênio molecular para obter dos alimentos a energia que precisamos para viver. Até fins do século passado, eram considerados espécies deletérias e responsáveis por várias doenças humanas. Hoje, no entanto, sabemos que, embora possam participar de várias doenças degenerativas, radicais livres e oxidantes são também essenciais, porque, entre várias outras coisas, participam do combate a infecções e da propagação da nossa espécie por meio do ato sexual.
Essa visão atualizada dos papéis fisiológicos e patofisiológicos de oxidantes e radicais livres começou a se estabelecer a partir da descoberta de que nós, e os mamíferos no geral, sintetizamos o radical livre óxido nítrico. Tal síntese ocorre de maneira controlada, catalisada por uma família de enzimas, as sintases do óxido nítrico, para produzir esse radical livre pequeno e gasoso, que atua como um sinal molecular que controla funções fisiológicas fundamentais. Dentre elas, destacam-se o controle de fluxo sanguíneo, a comunicação entre neurônios e a defesa contra microrganismos. A descoberta da síntese e funções do óxido nítrico teve um grande impacto em todas as áreas relacionadas à Medicina e deu o Prêmio Nobel de Medicina de 1998 aos seus descobridores, Robert Furchgott, Louis Ignarro e Ferid Murad.
Desde então, muitos pesquisadores procuram compreender os detalhes moleculares dos processos pelos quais o óxido nítrico e outros oxidantes participam de processos fisiológicos normais e como esses processos são subvertidos em processos degenerativos que levam a doenças. Só com o conhecimento desses mecanismos moleculares será possível desenvolver abordagens terapêuticas efetivas para tratar doenças crônicas prevalentes no mundo moderno, como doenças cardiovasculares, doenças neurodegenerativas e câncer.
Entre as dificuldades para entender esses mecanismos, está a natureza elusiva dos radicas livres e oxidantes, que têm vida muito curta em condições fisiológicas, nas quais duram de segundos a menos de milionésimos de segundos (10-9 s, ou nanossegundos). Essa variabilidade de vida média em condições fisiológicas está relacionada com as propriedades específicas de cada radical livre/oxidante. Para avançar a nossa compreensão sobre o papel de radicais livres na fisiologia e patofisiologia, é imprescindível ligar a química dessas espécies com suas funções fisiológicas.
Artigo - E é justamente isso que faz o artigo de revisão "Connecting the chemical and biological properties of nitric oxide" publicado por Ohara Augusto e José Carlos Toledo Jr e capa da edição deste mês de maio do periódico Chemical Research in Toxicology da American Chemical Society.
"Nesse trabalho, sumarizamos as propriedades químicas e bioquímicas do óxido nítrico, discutindo sua reatividade química, fontes biológicas, níveis fisiológicos e patofisiológicos e transporte celular. Ressaltamos todos os alvos bem estabelecidos do óxido nítrico, a cinética dessas interações e suas implicações fisiológicas e patofisiológicas. E, principalmente, concluímos que qualquer ação biológica atribuída ao óxido nítrico deve ser conectada com a relevância cinética dos alvos biológicos. Assim, ressaltamos que a compreensão da fisiologia e patofisiologia de radicais livres só será possível com abordagens interdisciplinares, que combinem biologia de sistemas com estudos químicos e biológicos rigorosos. Abordagens alternativas têm acumulado muitos resultados equívocos e/ou frustrantes", explica Ohara.
Ela é professora do Departamento de Bioquímica do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP) e coordenadora do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Processos Redox em Biomedicina (Redoxoma); e Toledo Jr. é professor do Departamento de Química da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, da USP de Ribeirão Preto. Ambos são membros do Redoxoma.

SBPC

ADURN Sindicato
84 3211 9236 [email protected]