Material interno do Banco do Brasil vê risco em 'orientação esquerdista' contra ditadura

Publicado em 06 de julho de 2012 às 09h50min

Tag(s): Direitos Humanos



Um material publicado em um sistema interno do Banco do Brasil recomenda cuidados especiais com “terroristas de orientação esquerdista” por causa do aumento do assalto a instituições financeiras a partir da década de 1960. O manual, atualizado em fevereiro deste ano, é baseado em cartilha de um oficial de Artilharia do Exército formado pela Academia Militar das Agulhas Negras.
Logo na abertura, o documento, que provocou protesto do Sindicato dos Bancários de São Paulo, cita “a multiplicação de ações terroristas” e o “financiamento do terrorismo” como questões que provocaram “grandes alterações” na maneira como governo e empresas privadas atuam sobre o tema da segurança.
No capítulo seguinte, “Fundamentos teóricos da segurança”, o texto vai adiante: “No Brasil, em razão do aumento de assaltos a instituições financeiras, a partir de meados da década de 1960, realizados por terroristas de orientação esquerdista, opositores do regime militar, entre eles o desertor do Exército ex-capitão Carlos Lamarca, e o ex-deputado, com formação em guerrilha e terrorismo na China e em Cuba, Carlos Marighella, autor do tristemente famoso manual do guerrilheiro urbano, tem início a formalização institucional da segurança privada. Várias organizações terroristas assaltavam instituições bancárias e de crédito, agindo de forma violenta, muitas vezes matando guardas, policiais e pessoas inocentes, requerendo medidas especiais de repressão ao delito”.
Segundo o documento, a fonte é a cartilha chamada “Fundamentos teóricos da segurança”, escrita por Marco Antonio dos Santos. De acordo com o currículo apresentado em um curso ministrado ao Sindicato dos Servidores do Sistema Penitenciário do Maranhão, Santos é especialista em Construção de Cenários formado pela Escola Superior de Guerra e em contra-espionagem empresarial. Além disso, foi chefe da Seção de Análise da Conjuntura Nacional do Centro de Inteligência do Exército.
Em nota enviada à Rede Brasil Atual, o BB informou que o texto foi publicado por um funcionário em um ambiente de rede interna colaborativo, e “contraria acintosamente os valores defendidos pela Empresa e foi imediatamente excluído, após sua identificação. O Banco lamenta o ocorrido e informa que irá rever as alçadas para publicação de conteúdos nesse ambiente”.
O documento levou o Sindicato dos Bancários de São Paulo a organizar uma manifestação programada para o meio-dia de amanhã (6) na rua São Bento, no centro da cidade. Em carta enviada à presidenta Dilma Rousseff e ao ministro Gilberto Carvalho (Secretaria Geral), a presidenta do sindicato, Juvandia Moreira, lamenta o episódio e pede que o trecho em questão seja eliminado do material entregue aos funcionários. “É inadmissível que uma apostila de um banco público, distribuída em todo o país, utilize tais termos para ilustrar um período tão obscuro como o da ditadura”, afirma. “O Brasil não pode mais reproduzir depoimentos equivocados da história do país. E o Banco do Brasil, subordinado a um governo democrático, não pode cometer erros como esse.”
Fonte: Rede Brasil Atual
 

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