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Publicado em 26 de julho de 2012 às 10h33min
Tag(s): Direitos Humanos
A presidente do Grupo Tortura Nunca Mais do Rio de Janeiro (GTNM/RJ), Victória Lavínia Grabois, acredita que a invasão da sede da entidade na última quinta-feira (19) tenha motivação política.
Victória baseia sua suspeita nas ameaças que o grupo recebeu. Foram duas em menos de dez dias. A última, no dia 11 de julho, veio através de um telefonema anônimo. “Uma voz masculina, demonstrando tranquilidade, declarou: 'estou ligando para dizer que nós vamos voltar e que isso aí vai acabar'”, descreveu a entidade em nota.
Para o GTNM/RJ, as ameaças partiram de “forças retrógadas e saudosistas da ditadura civil-militar”. Os invasores levaram R$ 1.567,37 do caixa do Projeto Clínico Grupal, além de diversos documentos e notas fiscais de serviço da entidade. Alguns arquivos também foram revirados e o computador estava ligado.
“Levaram as notas fiscais do projeto para nos prejudicar”, afirma Victória. Segundo ela, as notas eram utilizadas para o pagamento dos psicólogos que atendiam pacientes do projeto. Além disso, serviam para a prestação de contas à Organização das Nações Unidas (ONU), que financia o projeto.
De acordo com Victória, o projeto clínico-psicológico ”atende as pessoas que têm traumas da violência estatal”. Entre os documentos levados, estão dossiês com laudos de pacientes que fizeram denúncias à entidade.
Em nota divulgada na sexta-feira (20), a ministra chefe da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR), Maria do Rosário, manifestou repúdio às agressões contra o grupo. “Diante dos fatos ocorridos, consideramos inaceitável o ataque a uma entidade que realiza um trabalho fundamental na defesa dos Direitos Humanos”, disse.
Na nota, a ministra Maria do Rosário afirmou que a Polícia Federal participará das investigações feitas pela Polícia Civil do Rio de Janeiro sobre a invasão da sede da entidade e as ameaças sofridas. De acordo com a ministra, os fatos tornam-se mais graves diante da dedicação do grupo “à democracia e à recuperação histórica” dos acontecimentos no Brasil durante a ditadura militar (1964-1985) e no combate à tortura nos dias de hoje. “Diante do momento que o país vive, de recuperação da memória e da verdade para afirmação da nossa democracia, consideramos fundamental que os episódios sejam rapidamente investigados e solucionados, para que se esclareçam as reais causas da violência contra a entidade e para que ela tenha plenas condições de continuar a realizar seu importante trabalho em defesa dos Direitos Humanos”, defendeu.
O anúncio da participação da PF no caso, segundo Victória, atende ao pedido feito pelo Grupo Tortura Nunca Mais. No entanto, até o momento a entidade não recebeu nenhum contato dos agentes federais. “Ninguém nos contatou mais, nem a ministra dos Direitos Humanos, nem o ministro da Justiça, nem a Polícia Federal”, conta Victória.
A presidente da entidade disse esperar que as investigações revelem quem invadiu a sede do grupo. “A gente pediu a quebra do sigilo telefônico para ver de onde partiu esse telefonema de ameaça e [a verificação] se eles colocaram aqui na sede alguma escuta”, relata.
Segundo a nota divulgada pelo Grupo Tortura Nunca Mais logo após a invasão, a entidade não teme as ameaças e continuará com o trabalho que exerce há 27 anos. “Continuaremos exigindo e lutando por uma efetiva Comissão Nacional da Verdade e Justiça transparente e pública, pela abertura dos Arquivos da ditadura e pelo cumprimento da sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos do caso Araguaia”, diz na nota.
Fonte: Brasil de Fato