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Publicado em 13 de agosto de 2012 às 09h27min
Tag(s): Direitos Humanos
O Fórum Aberto pela Democratização da USP deseja que a universidade anule a demissão por “abandono de função” de Ana Rosa Kucinski Silva, sequestrada e assassinada em 1974 pelos órgãos de repressão da ditadura (1964-85). Ana Rosa era professora do Instituto de Química (IQ) da Universidade de São Paulo e integrante da Ação Libertadora Nacional (ALN), uma organização de guerrilha urbana que lutava contra o regime. Em 1975, a congregação do instituto em que ela lecionava a demitiu, ignorando seu desaparecimento forçado.
O fórum, que reúne a Associação de Docentes da USP (Adusp), o Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp) e 26 entidades estudantis e associações, vai realizar uma manifestação na segunda-feira (13) em frente ao instituto exigindo uma revisão do caso de Ana Rosa.
A professora da Faculdade de Letras, Filosofia e Ciências Humanas da USP Elisabetta Santoro, vice-presidenta da Adusp, afirmou que a demissão simboliza como a universidade age em relação ao seu histórico com a ditadura. “É emblemático. Até hoje, a universidade não reverteu uma atitude que foi baseada em mentira”, disse ela. Para Elisabetta, a manifestação busca informar os atuais estudantes que não conhecem o passado da instituição sobre o envolvimento dela com a ditadura.
“Queremos fazer jus à memória e à verdade, precisamos saber o que de fato ocorreu e avaliar a postura da universidade, que condescendeu com a repressão. Se revermos suas atitudes desse período, podemos fazer luz ao passado, avaliar nosso presente e planejar nosso futuro”. Ela ainda comentou que a manifestação deseja que o IQ seja batizado com o nome de Ana Rosa.
Ana Rosa foi sequestrada com seu marido, o físico e também guerrilheiro Wilson Silva, em 22 de maio. Segundo relata o professor e jornalista Bernardo Kucinski, irmão dela, eles foram raptados no momento em que celebravam quatro anos de casamento.
Graduada em química e doutora em filosofia, ela era uma das mais jovens professoras do IQ e desapareceu aos 32 anos. Ela e o marido teriam sido raptados pelo delegado do Departamento de Órdem Política e Social (Dops) Sérgio Pastranhos Fleury, passado um dia presos em São Paulo e então transferidos para a chamada “Casa da Morte” em Petrópolis, no Rio de Janeiro, onde, após serem torturados, teriam sido assassinados pouco dias depois, de acordo com um depoimento feito pelo ex-cabo do Exército José Rodrigues Gonçalves à jornalista Mônica Bergamo, para uma reportagem da revista Veja, em 1993.
A reportagem de Mônica nunca foi publicada, mas Bernardo obteve dela uma cópia do material, segundo relatou à Rede Brasil Atual em maio deste ano, quando comentou a confissão do ex-delegado Cláudio Guerra, publicada no livro Memórias de uma guerra suja, dos jornalistas Marcelo Netto e Rogério Medeiros. Guerra afirmou que o corpo de Ana Rosa foi incinerado na Usina Cambahyba, no Rio de Janeiro.
Em 1995, a Lei 9.140 incluiu o nome de Ana Rosa na lista oficial das 136 pessoas que se encontravam desaparecidas em razão de participação, ou acusação de participação, em atividades políticas, entre 2 de setembro de 1961 e 15 de agosto de 1979, e detidas por agentes públicos. A Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP), instituída pela mesma lei, declarou que Ana Rosa foi vítima do Estado brasileiro. No entanto, até agora a USP não tomou qualquer medida para reverter a demissão por justa causa de Ana Rosa.
O Fórum Aberto pela Democratização da USP procura instaurar uma Comissão da Verdade na universidade para investigar a relação da instituição com a Ditadura. “Há ainda coisas na USP que são heranças de um passado submerso, enterrado por muitos”, comentou Elisabetta.
Fonte: Rede Brasil Atual