Professor do ensino fundamental no País é um dos mais mal pagos do mundo

Publicado em 04 de outubro de 2012 às 16h11min

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 Levantamentos com chancela da ONU revelam que um professor de São Paulo tem rendimento médio anual equivalente a US$ 10,6 mil - 10% do que ganha um docente suíço. Além disso, a renda do professor brasileiro é menor que a média dos trabalhadores do País.

Professores brasileiros em escolas de ensino fundamental têm um dos piores salários de sua categoria em todo o mundo e recebem uma renda abaixo do Produto Interno Bruto (PIB) per capita nacional. É o que mostram levantamentos realizados por economistas, por agências da ONU, Banco Mundial e Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Prestes a comemorar o Dia Internacional do Professor, amanhã (5), a Organização Internacional do Trabalho (OIT) lançou um alerta, apontando que a profissão em vários países emergentes está sob "forte ameaça" diante dos salários baixos.

Num estudo realizado pelo banco UBS em 2011, economistas constataram que um professor do ensino fundamental em São Paulo ganha, em média, US$ 10,6 mil por ano. O valor é apenas 10% do que ganha um professor nesta mesma fase na Suíça, onde o salário médio dessa categoria em Zurique seria de US$ 104,6 mil por ano.

Numa lista de 73 cidades, apenas 17 registraram salários inferiores aos de São Paulo, entre elas Nairobi, Lima, Mumbai e Cairo. Em praticamente toda a Europa, Estados Unidos e Japão, os salários são pelo menos cinco vezes superiores ao de um professor do ensino fundamental em São Paulo.

Guy Ryder, o novo diretor-geral da OIT, emitiu um comunicado ontem no qual apela para que governos adotem estratégias para motivar pessoas a se tornarem professores. Sua avaliação é de que, com salários baixos, a profissão não atrai gente qualificada. O resultado é a manutenção de sistemas de educação de baixo nível. "Muitos não consideram dar aulas como uma profissão com atrativos", disse. Para Ryder, a educação deve ser vista por governos como "um dos pilares do crescimento econômico".

Outro estudo - liderado pela própria OIT e pela Unesco (órgão da ONU para educação, ciência e cultura) e realizado com base em dados do final da década passada - revelou que professores que começam a carreira no Brasil têm salários bem abaixo de uma lista de 38 países, da qual apenas Peru e Indonésia pagam menos. O salário anual médio de um professor em início de carreira no País chegava a apenas US$ 4,8 mil. Na Alemanha, esse valor era de US$ 30 mil por ano.

Em um terceiro levantamento, a OCDE apontou que salários de 2009 no grupo de países ricos tinham uma média de US$ 39 mil por ano no caso de professores do ensino fundamental com 15 anos de experiência. O Brasil foi um dos poucos a não fornecer os dados para o estudo da OCDE.

Médio - Numa comparação com a renda média nacional, os salários dos professores do ensino fundamental também estão abaixo da média do País. De acordo com o Banco Mundial, o PIB per capita nacional chegou em 2011 a US$ 11,6 mil por ano. O valor é US$ 1 mil a mais que a renda de um professor, segundo os dados do UBS.

Já a OCDE alerta que professores do ensino fundamental em países desenvolvidos recebem por ano uma renda 17% superior ao salário médio de seus países, como forma de incentivar a profissão.

Na Coreia do Sul, os salários médios de professores são 121% superiores à média nacional. O Fórum Econômico Mundial apontou recentemente a Coreia como uma das economias mais dinâmicas do mundo e atribuiu a valorização da educação como um dos fatores que transformaram uma sociedade rural em uma das mais inovadoras no século 21.

Salário em São Paulo é pouco atraente - O valor do salário do professor em São Paulo - cerca de R$ 1.780 por mês -, apontado no estudo, torna a profissão "pouco atrativa". É a posição do professor de Educação da Universidade de São Paulo (USP) José Marcelino Rezende, especialista em financiamento público.

Segundo ele, os melhores alunos dos cursos de formação de docentes preferem se submeter a concursos públicos em outras áreas que encarar a rede de ensino ao final da graduação. "E é evidente que essa cadeia afeta a qualidade da educação básica", diz.

Rezende também cita que cerca de 220 mil vagas em cursos da área de formação de professores não são preenchidas nos vestibulares do País. "E com a educação a distância oferecendo mais de um milhão de vagas, o salário tende a se reduzir ainda mais com esse acréscimo de profissionais no mercado", fala.

Esse quadro de pouca atratividade também é reconhecido pela Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE). "Esses dados só confirmam o que nós temos colocado nesses últimos anos", afirma o presidente da CNTE Roberto Franklin de Leão.

De acordo com ele, o salário médio dos professores deveria ser igual ao rendimento recebido pelos servidores de mesma titulação que atuam no serviço público. "Nós ganhamos em média 40% menos que o salário de um outro servidor de mesma formação", afirma.

No entanto, para o pesquisador Simon Schwartzman, presidente do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets), o aumento do salário não melhoraria necessariamente o resultado das escolas. "Mas, se tiver um patamar mais alto de rendimentos, já vai ser possível recrutar gente mais qualificada nas próximas seleções."

Para o Ministério da Educação (MEC), que monitora o assunto, "não há surpresas" nos valores revelados pelo estudo. O ministério, no entanto, cita como avanço desse quadro o estabelecimento do piso nacional.

Em nota, a secretaria municipal de Educação de São Paulo afirma não conhecer detalhes do estudo, mas informa que o valor do piso do professor que trabalha 40 horas semanais e recebe anualmente o Prêmio por Desempenho Educacional - o bônus da área - é quase 70% maior que a média apresentada no levantamento. Hoje, o sistema municipal emprega mais de 62 mil professores.

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