Especialista recomenda investimentos em C&T para enfrentar a crise mundial

Publicado em 30 de outubro de 2012 às 16h21min

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 Embora a economia brasileira tenha conquistado status no cenário internacional, o País precisa aumentar os investimentos em ciência e tecnologia para melhorar o processo produtivo e elevar a competitividade no exterior.

A avaliação é do reitor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Clélio Campolina Diniz, que ministrou palestra ontem no 2º Encontro Preparatório do Fórum Mundial de Ciência, realizado na universidade com o mesmo nome, em Belo Horizonte, sobre o tema "Crise mundial, mudanças geopolíticas e inserção do Brasil: os desafios científicos e tecnológicos".

Segundo ele, a ciência precisa ser vista como elemento básico para o desenvolvimento tecnológico e de inovação. "Hoje o Brasil se depara com uma janela de oportunidades que pode ganhar ou perder", analisou Diniz, também professor titular do Departamento de Economia da Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG, que vê mudanças no cenário econômico internacional.

De acordo com o reitor, enquanto as grandes economias declinam, as dos emergentes prosperam. Citou o exemplo da redução da participação da economia dos Estados Unidos em uma década, de 30,6% do PIB mundial, para 27,9% em 2010, enquanto a da China cresceu de 3,7% para 7,8% no mesmo período, ao passo que a brasileira subiu de 2,0% para 2,2%.

Conforme o economista, o Brasil ainda é o país que menos investe em pesquisa e desenvolvimento (P&D) no mundo, fator refletido no baixo desempenho das exportações - que respondem hoje por 1,3% do total mundial -, baseadas tradicionalmente em commodities.
Os investimentos internos em ciência e tecnologia (C&T) correspondem a 1,4% do PIB - a maioria desse percentual é aplicada pelo setor público. É um cenário diferente do de países competitivos, como a China, onde a maioria (78%) desses investimentos é comandada pelo setor privado.

Estímulos aos investimentos estrangeiros - Diniz recomendou o governo federal a estimular o setor privado a investir em pesquisas científicas e tecnológicas. "O Brasil precisa encontrar uma forma para estimular a entrada dos investimentos estrangeiros em ciência, tecnologia e inovação", exemplificou o reitor da UFMG, para aconselhar: "Esses são alguns dos elementos da estrutura econômica brasileira que precisam ser atendidos".

Refletindo o baixo investimento em ciência e tecnologia, Diniz destaca que a produção científica nacional responde apenas por 2,7% da totalidade mundial e por 10% do total dos Estados Unidos (EUA), que produzem 341 mil artigos anuais. Historicamente, os países que mais investem em ciência e tecnologia são Japão, Coreia, EUA e Alemanha. Aliás, por ter desempenho positivo científico e tecnológico e poder de governança, os Estados Unidos, segundo Diniz, devem ser um dos primeiros países ricos a saírem da crise econômica.

Ao analisar o desempenho do Brasil para os próximos anos, Diniz fez um breve relato sobre os fatores responsáveis pela atual crise global, que, segundo disse, não estava dentro das previsões econômicas e que o caos econômico reflete uma crise financeira com problemas de governança, sobretudo na Europa. Lembrou dos 30 anos gloriosos de crescimento mundial (de 1949 a 1978), citou a decadência do capitalismo e do socialismo e a ascensão das economias emergentes. Ele também vê a desintegração dos mercados mundiais. No caso brasileiro, a tendência é de que os negócios do Brasil foquem mais no continente africano e nos países da América do Sul.

Potencial nacional - Ao mesmo tempo em que o Brasil registra uma pequena participação na produção científica no total mundial, Diniz destaca o potencial brasileiro para conquistar mais espaços no cenário internacional. Como pontos positivos, citou a participação da população brasileira, que responde por 2,8% do total mundial, e a detenção de 6,3% da área territorial - considerável extensão de terra com recursos naturais, solo, água e biodiversidade. Na lista, ele acrescentou o avanço científico recente e ausência de conflitos com países vizinhos.

Desafios - Os desafios a serem enfrentados, porém, são a falta de domínio do idioma inglês, a baixa escolaridade, a pífia interação entre universidades e o setor privado, deficiência da infraestrutura e corrupção edêmica, dentre outros.

O reitor demonstrou, assim como outros especialistas e cientistas, preocupação com a qualidade desfavorável da educação nacional, principalmente do ensino básico. "É preciso fazer investimento maciço na educação. Se não houver forte intervenção na educação básica, vamos continuar construindo o prédio a partir do segundo andar", alertou.

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