Mais de seis mil profissionais vão trabalhar na correção das redações do Enem

Publicado em 07 de novembro de 2012 às 11h12min

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 O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) informou hoje (6) que 6.386 profissionais atuarão na correção das redações do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2012. Desse total, 5.683 trabalharão diretamente com os 4,1 milhões de redações que serão corrigidas neste ano. O exame foi realizado no último fim de semana (dias 3 e 4) para estudantes de todo o País.

Entre os demais avaliadores, 229 atuam como supervisores, 12 como coordenadores de banca e 462 como auxiliares de supervisão. De acordo com o presidente do Inep, Luiz Cláudio Costa, esses servidores trabalham para garantir a qualidade da correção das redações.

A partir desta edição do Enem, os alunos terão acesso às redações corrigidas para fins pedagógicos a partir de 15 de fevereiro de 2013, no site do Inep. Entretanto, os candidatos não poderão usar esse acesso como base para recursos na comissão organizadora da prova. O resultado final do exame será divulgado três semanas antes da abertura de acesso à redação, no dia 28 de dezembro.

"Nós estamos garantindo a ele [candidato] todos os recursos na correção para que tenha tranquilidade. E, tendo a nota, poderá reorientar-se, porque esse é o processo educativo. Tenha ele entrado na universidade ou não", explicou Costa.

Todos os profissionais envolvidos na correção da redação passam por um segundo treinamento presencial e a distância desde ontem (5) até a semana que vem, dia 14. Segundo Luiz Cláudio, o treinamento prepara os corretores para avaliar o tema deste ano: O Movimento Imigratório para o Brasil no Século 21. A partir do dia 15 de novembro, as redações dos candidatos já começam a ser corrigidas.

O número de corretores de redação foi ampliado em 40% para o Enem 2012. Dois professores avaliarão o desempenho dos alunos, que podem receber até 200 pontos para cada uma das cinco competências (domínio da norma padrão da língua portuguesa, compreensão e desenvolvimento do tema utilizando várias áreas do conhecimento, construção e defesa de um ponto de vista, construção de argumentação e proposta de intervenção para o problema, respeitando os direitos humanos).

Havendo divergências acima de 200 pontos em todas as competências somadas ou superior a 80 pontos em qualquer um dos cinco itens avaliados, a prova será corrigida por um terceiro avaliador. No caso, a nota final será a média aritmética das duas notas totais que mais se aproximarem.

O Inep estima que 1,2 milhão de redações passem pela terceira avaliação. Caso ainda persista a divergência de notas, outra banca composta por três professores dará a nota final do participante. Até o exame anterior, a margem para discordância era 300 pontos.

A previsão do Inep é que o corretores avaliem, no máximo, 100 redações por dia. Luiz Cláudio Costa ressaltou que os corretores serão supervisionados durante todo processo de correção das redações para garantir a qualidade da avaliação.

O avaliador que não corresponder ao padrão exigido pelo Inep poderá ser dispensado das correções. "Nós criamos um fluxo que vai dar muita segurança ao estudante", assegurou Costa. A redação é digitalizada em Brasília pela organizadora do exame e será distribuída online aos corretores localizados em todo o País.

Tema polêmico - "Movimento imigratório para o Brasil no século 21", o tema proposto para a redação do Enem deste ano, não agradou historiadores que pesquisam a imigração. Maria Luiza Tucci Carneiro, professora de história da USP, diz que apesar de o assunto ser atual não há produção didática e paradidática suficiente para que o aluno tenha condições de desenvolver boas redações. "O professor do ensino médio ainda mal dá conta de trabalhar as grandes migrações do século 20 quanto mais de formar o aluno para um tema tão recente."

Professora de história da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Marieta de Moraes Ferreira faz crítica semelhante. "Existem estudos, mas ainda não foram transferidos para livros didáticos e paradidáticos." Ela diz que assuntos como este, ainda que importantes, levam anos para serem "processados".

Para o vice-diretor da Faculdade Cásper Líbero, Wellington Andrade, que é professor de redação no curso de jornalismo e que participa da comissão que escolhe assuntos para o vestibular da faculdade, o problema não é o tema. "Ele é muito bom, mas a preparação dos alunos médios brasileiros para redação é uma lástima", diz ele, que chegou a trabalhar na equipe de correção de provas do Enem.

Se mesmo os profissionais que elogiam o tema da redação do Enem dizem que ele pegou os alunos de "calças curtas", ele não foi totalmente surpreendente para a equipe do portal de ensino médio da Fundação Getulio Vargas, no Rio. "Nossa equipe tinha elaborado uma pergunta sobre a recente migração de haitianos para o Brasil", diz a socióloga Raquel Emerique, em referência à base de perguntas disponíveis desde setembro deste ano no site ensinomediodigital.fgv.br.

O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, defendeu o tema da redação do Enem. "Temos uma comissão competente que considerou, entre tantas sugestões de tema, este o mais adequado. Ele pressupõe a capacidade de articular informações e refletir sobre o momento que o Brasil está vivendo. O Brasil é um país que teve uma diáspora, mas com a estabilidade, a democracia, hoje atrai povos. Acho que é um tema bastante contemporâneo, desafiador e não previsto", disse.

O ministro ainda acrescentou que, ao longo das questões, a prova trazia exemplos que ajudavam na reflexão sobre o tema da redação.

Custo das abstenções - O MEC vai fazer um estudo para tentar reduzir o número de candidatos que se inscrevem e faltam no Enem. A taxa de abstenção neste ano foi de 27,9%, índice similar ao das duas últimas edições. Em um vestibular, essa taxa não costuma passar de 9%. O custo com os faltosos neste exame foi de R$ 90,4 milhões.

O estudo foi um pedido pessoal do ministro Mercadante ao presidente do Inep. A análise deve ficar pronta em 20 dias. "O ministro atentou para esse problema e já estamos produzindo o estudo. Tenho convicção de que é possível construir uma política para reduzir esses índices", disse Costa.

O órgão quer entender exatamente o perfil dos faltosos, cujo número chegou a 1,6 milhão no exame do fim de semana passado. O Inep quer identificar se existe variação da abstenção por região e idade e também se há predominância dos candidatos isentos ou treineiros. Neste ano, 70% dos 5,7 milhões de inscritos não pagaram a taxa de inscrição. São alunos de escola pública ou que pediram isenção por carência.

O custo por aluno neste Enem foi de R$ 55,98, um aumento de R$ 8 em relação ao ano passado. Esse gasto tem sido crescente a cada ano e a taxa de abstenção se mantém estável. Em 2011, a média de faltas foi de 26,4% e, em 2010, de 28%.

Apesar dos altos índices registrados nos anos anteriores, o Inep nunca fez um estudo para entender os motivos da abstenção. "Vamos fazer agora o recorte, levando em conta os dados deste ano e dos anteriores, para mostrar ao ministro o que aconteceu em cada edição", disse o presidente do Inep.

Para o professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA) Cipriano Luckesi, ainda existe muita confusão em torno do exame. "A população em geral ainda não assimilou com clareza a verdadeira função do Enem", diz o professor, que é especialista em avaliação. "Acho que o MEC precisa se esforçar para esclarecer que o Enem é recurso de seleção. Mas ainda é importante que ele continue sendo uma ferramenta para avaliar o ensino médio."

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