MEC divulga resultado do Enem 2011 por escolas

Publicado em 26 de novembro de 2012 às 10h23min

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 Entre as 100 escolas mais bem colocadas no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2011, dez são públicas: duas estaduais e oito federais. As notas por instituição foram divulgadas ontem (22) pelo ministro da Educação, Aloizio Mercadante.
Com o oitavo lugar, o Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Viçosa obteve o melhor resultado entre as públicas. Depois veio o Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), na 29ª colocação, e o Instituto Federal do Espírito Santo, em Vitória, no 40º lugar.
O Colégio Objetivo Integrado, escola particular localizada em São Paulo, ficou com a melhor nota do Enem do ano passado.
Para Mercadante, o resultado não pode ser considerado como ranking das melhores escolas de ensino médio do País. "O Enem não é um ranking de avaliação entre escolas, é uma avaliação dos alunos, dos estudantes. É insuficiente como avaliação do estabelecimento escolar", ressaltou o ministro.
Foram consideradas 10.076 escolas, o que corresponde a 40,56% do total de instituições. A divulgação das notas considerou as escolas em que pelo menos 50% dos alunos concluintes do ensino médio participaram do exame em 2011 e as instituições de ensino com um mínimo de dez alunos no último ano do ensino médio. A nota corresponde à média das quatro provas objetivas do Enem (ciências da natureza, linguagens, matemática e ciências humanas). No ranking do ano passado não foi considerada a nota da prova de redação.

Consulte as notas de todas as escolas no portal do MEC: http://portal.mec.gov.br/enemporescola2011.

Avaliação escolar gera competição descabida
Análise de Silvia Gasparian Colello, professora da Faculdade de Educação da USP, publicada na Folha de São Paulo.

As iniciativas de avaliação escolar parecem legítimas pela possibilidade de subsidiar um balanço sobre o trabalho desenvolvido, o que permite vislumbrar fragilidades no processo de ensino e aprendizagem, rever o projeto pedagógico e estabelecer prioridades para o replanejamento da vida escolar. Este é o objetivo assumido pelo Enem: situar a escola perante o contexto nacional, para que se possa reconfigurar metas e perspectivas de trabalho em nome do aprimoramento do ensino.

Tomados como um indicador de qualidade, os dados favorecem a transparência entre escola e comunidade. Se a intenção avaliativa é a princípio louvável, os usos que se fazem dos resultados do Enem pelo ranking das escolas podem, entretanto, comprometer seus propósitos, prestando um desserviço à sociedade.
Isso porque, na prática, o Enem acaba funcionando como um critério único e reducionista de avaliação, que não faz justiça à complexidade dos fatores envolvidos no processo educacional.
Por um lado, é injusto comparar escolas com diferentes realidades e perfis de alunos; por outro, parece insuficiente que todo o esforço da escola seja avaliado por uma única prova de conhecimento. Admitir isso seria reforçar a tendência de uma educação centrada nos saberes e habilidades cognitivos, em detrimento de aspectos pouco mensuráveis, como a formação de valores. Além disso, como o uso do Enem se presta ao sistema de propaganda das escolas particulares, o ranqueamento gera uma competição descabida no mercado educacional.
Uma busca que acaba por inverter o sentido da avaliação, já que o Enem deixa de ser o balanço do processo pedagógico e passa a reger o próprio funcionamento das escolas, muitas delas movidas pelo treinamento para o exame. No limite, o Enem é até motivo para a criação de "escolas-vitrine", com alunos selecionados para garantir o cobiçado e lucrativo topo da lista.
Quando os fins justificam os meios, o projeto de formação humana de cada escola corre o risco de perder a identidade, porque torna-se refém da própria avaliação. Uma educação elitista na contramão dos princípios democráticos.

Nota de colégio não reflete qualidade da educação entregue
Análise de Paula Louzano, professora da Faculdade de Educação da USP, publicada no jornal O Estado de São Paulo.

Mais uma vez o MEC divulga a nota do Enem por escola. Ainda que desde 2011 essas notas venham acompanhadas das taxas de participação dos alunos e o Inep só divulgue a nota das escolas onde mais da metade dos alunos fez as provas, na prática o MEC está estimulando o ranqueamento de escolas com base em um indicador equivocado.
A nota de uma escola no Enem não reflete a qualidade da educação entregue por ela. Como as pesquisas no Brasil e no mundo mostram há muito tempo, em uma avaliação em larga escala as notas das escolas refletem em grande parte o nível socioeconômico dos seus alunos. Portanto não faz sentido comparar escolas cuja origem social dos alunos seja muito distinta.
As escolas privadas e as públicas que aparecem nos primeiros lugares no ranking estão lá porque selecionam seus alunos, seja pela renda, no caso das privadas, seja por algum processo seletivo, no caso das escolas públicas. Portanto a nota do Enem, divulgada dessa maneira, não está medindo a contribuição que a escola agrega, já que não separa a bagagem que o aluno trouxe de casa do trabalho realizado pela escola. Essa separação é fundamental para julgarmos se e quanto uma escola é melhor que a outra, como sugerem os rankings.
Além disso, o Enem tem mais um agravante: por ser uma prova voluntária, a média dos alunos que realizam a prova não reflete a totalidade dos estudantes matriculados na escola. Como esse fenômeno não é aleatório e o Inep não tem controle sobre quais alunos deixam de fazer as provas, temos uma amostra passível de manipulações.
Dois exemplos refletem o quão pernicioso pode ser o ranqueamento que confunde a nota do Enem com a qualidade da educação de um estabelecimento de ensino. Em 2011, o secretário de Educação do Espírito Santo moveu uma campanha nas escolas estaduais para que todos os alunos das escolas públicas fizessem o Enem, pois ele achava que isso ampliaria as oportunidades de estudos dos alunos mais pobres de seu Estado cujas famílias valorizam menos a educação. Ao sair a divulgação do Enem, as escolas públicas capixabas figuravam entre as piores do Brasil.
Qual o segredo? Ao estimular todos os alunos a participar do Enem, o secretário "viciou sua amostra para baixo", pois incluiu alunos mais "fracos". Por outro lado, uma escola privada de São Paulo percebeu que, ao criar uma "nova" escola com seus melhores alunos, poderia fazê-la subir no ranking do Enem. Foi, portanto, "viciando sua amostra para cima" - selecionando os melhores alunos de sua rede para fazer aprovado Enem que o Colégio (Integrado) Objetivo se tornou o número um no ranking do ano passado e manteve sua posição neste ano. E, com isso, assistimos perplexos ao marketing que essa rede faz de todas as suas escolas com base nessa "conquista".
Assim, uma estratégia pedagogicamente relevante - estimular os alunos mais vulneráveis de uma rede pública a fazer o Enem - é punida e uma atitude questionável é premiada. A finalidade do Enem não é essa. O ranqueamento que é feito com base na divulgação das notas das escolas está produzindo incentivos perversos no sistema educacional brasileiro.

Fonte: SBPC

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