Bioinseticidas e biofarmácos

Bioinseticidas e biofarmácos

Entrevista em 12 de janeiro de 2009

Estudar as proteínas de plantas nativas da região Nordeste que possam ser utilizadas na fabricação de remédios ou de pesticidas. Esse é o foco das pesquisas coordenadas pelo professor Maurício Pereira de Sales, do Departamento de Bioquímica (DBQ), da UFRN.
Foi durante a graduação, em Engenharia Agrônoma, pela Universidade Federal do Ceará, entre 1982 e 1987, que Maurício se interessou por Bioquímica. Logo após, fez mestrado nessa mesma área, também pela UFC. O doutorado, em Ciências Biológicas, foi realizado no Rio de Janeiro, embora ele fosse orientando da Escola Paulista de Medicina, ligada à Universidade Federal de São Paulo.
A vinda para o Rio Grande do Norte ocorreu no final de 1996, quando Maurício prestou concurso para professor da UFRN. Ele assumiu seu cargo no ano seguinte e, desde então, desenvolve pesquisas cujo foco é o isolamento e a análise de proteínas extraídas de sementes de plantas nativas do Nordeste brasileiro, mais especificamente, do bioma da caatinga.
Em seus estudos, o professor trabalha em duas linhas: bioinseticidas e biofarmácos. A primeira visa combater pragas por meio da análise de proteínas existentes em plantas da região que são imunes ou que não sofrem ataques de determinados tipos de insetos. A segunda procura descobrir, também a partir dessas plantas, proteínas capazes de serem utilizadas na indústria farmacêutica.
Nas pesquisas com bioinseticidas, as equipes coordenadas pelo professor alcançaram resultados expressivos. Em um trabalho, foi isolada uma proteína capaz de evitar a presença de bruquídeos em feijão de corda, por exemplo. Maurício explica como é a rotina das pesquisas. “Em uma das vertentes dessa linha, nós analisamos proteínas capazes de serem usadas na transgeníase. Aqui, no laboratório, nós as isolamos, as purificamos, as classificamos e as testamos contra o inseto. Se os resultados forem positivos, nós indicamos essa proteína para outros pesquisadores que queiram modificar seus genes e aplicá-los nas plantas para elas se tornarem imunes àquela peste”.
Em outra via das pesquisas com bioinseticidas, Maurício trabalha para combater a mosca da fruta. “Para modificar geneticamente uma árvore frutífera, por enquanto, é mais complicado. Então, buscamos desenvolver um pesticida para atrair e matar esse inseto. Até agora, a proteína que mais se mostrou eficiente foi a vicilina”, explica o professor.
Quanto aos biofarmácos, Maurício tem estudado proteínas capazes de inibir a elastáse de neutrófilos humanos, causada por uma enzima usada para a defesa do organismo, mas que, produzida em excesso, pode causar várias doenças. “Os remédios usados atualmente para combater esse mal são produzidos a partir de proteínas isoladas no sangue humano. Nós buscamos esses inibidores em plantas porque, além de baratear financeiramente o tratamento, evita-se a preocupação com outras doenças como a AIDS e a hepatite”.
 


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