O urbano e as relações

O urbano e as relações

Entrevista em 07 de janeiro de 2009

Analisar como o planejamento urbano e as relações entre homens e mulheres afetam o desenvolvimento social da população do Rio Grande do Norte. Essas são as linhas de pesquisa da professora Françoise Dominique Valéry, do Departamento de Arquitetura e Urbanismo (DARQ), da UFRN.
Nascida na França, a professora construiu, ao longo da sua carreira, uma formação multidisciplinar para entender todos os pontos abrangidos nas suas pesquisas. Ela se graduou pela Université Aix Marseille III, em História, entre 1971 e 1973, e em Línguas Estrangeiras Aplicadas, entre 1976 e 1978. Fez mestrado em História Contemporânea, na mesma universidade e, no Institut d Aménagement Regional, fez mestrado e doutorado em Planejamento Regional e Urbano. Em 1979, Françoise veio para Natal para ser professora visitante do DARQ. Foi efetivada em 1981 e, entre 1982 e 1986, fez mestrado em Ciências Sociais, pela UFRN.
Naquela década, ela começou a pesquisar as características sociais e antropológicas dos programas habitacionais promovidos pelo governo federal. Mais especificamente, no mutirão da casa própria. Nesse trabalho, a professora identificou que os mutirões que foram bem sucedidos eram os dirigidos ou que tinham uma grande participação de mulheres. “Nós encontramos muitos casos de homens que trocavam suas casas por bicicletas e, até mesmo, por bebidas alcoólicas, enquanto que a mulher se preocupava em terminar a casa para poder viver nela com sua família”, lembra Françoise.
Com essa constatação, a professora passou a estudar o desenvolvimento social e sua relação com os gêneros. Para isso, no início da década de 1990, ela criou o Núcleo de Pesquisa da Mulher e Relações de Gêneros Nísia Floresta (NEPAM), da UFRN. Os trabalhos realizados no NEPAM mostraram as diferentes maneiras com que a sociedade constrói a desigualdade entre os gêneros e acaba por discriminar a mulher. “Apesar da mulher ser um agente social importante, sua imagem era desvalorizada perante a sociedade. Até àquela época, se esperava que ela fosse, apenas, dona de casa. Os programas sociais, e em particular os habitacionais, eram dirigidos para os homens. A situação só começou a mudar quando apareceram as primeiras pesquisas que mostravam o grande número de mulheres que chefiavam suas famílias”.
Esse perfil empreendedor feminino encontrado nas pesquisas do NEPAM estimulou Françoise, a partir do ano 2000, a estudar o papel das mulheres na economia solidária e sua relação com o desenvolvimento social local. A professora verificou que as mulheres aproveitavam melhor as possibilidades de criar e gerir seus próprios negócios, mas que a evolução deles esbarrava na burocracia. Então, entre 2001 e 2005, a pesquisadora criou e coordenou a Incubadora de Cooperativas Populares do RN (INCOOP), ligada à UFRN, para fomentar o surgimento de pequenos empreendimentos e para resgatar o saber popular e fazê-lo agir em parceria com o saber intelectual.
Em 2005, Françoise foi selecionada pelo Ministério das Cidades para participar da elaboração de planos diretores em municípios do Rio Grande do Norte. Em 2008, ela finalizou o trabalho no município de João Câmara. Agora, Françoise está compilando as informações e experiências obtidas naquela cidade para publicá-las em um livro.
 


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